não é assim o fim do mundo fazer a bela gil e substituir guanciale por pancetta no carbonara. algumas regras existem pra ser quebradas, especialmente em terra tão distante da receita original. já bacon, não. aí já é dar motivo pra italia declarar guerra pro brasil, o que não é bom, se considerarmos o talento natural deles para o combate. além do mais, não se troca algo curado por um defumado.
na minha casa só faço com guanciale, clássico e mais gostoso. mas só acho a iguaria na casa do porco – cujo fechamento temporário faz uma falta danada aqui na vizinhança – e no santa luzia que, embora imagino estar aberto, consideraria um abuso ao isolamento pegar um taxi para ir lá. então fiquei na vontade.
nesses tempos de quarentena, muita gente tem aberto conteúdo pago pra livre acesso pro fim das pessoas não enlouquecerem. acontece que minha produção virtual já é aberta, então não tenho muito o que oferecer. como meu próximo livro será de receitas crônicas, compartilho a seguir um carbonara de guerra, simplão. inclusive admito que se achar pancetta aqui no açougue da general jardim eu mesmo a farei. não é hora de certos preciosismos. por fim, adianto que esse será o tom do livro, um pouco de prosa e algo pra cozinhar, além de ilustrações de um amigo muito querido e talentoso que na hora certa contarei quem é.
o último carbonara do mundo
ingredientes
100g rigatoni (prefiro ao espaguete)
50g pecorino ralado (infelizmente não fica bom com parmesão, desculpe)
100g pancetta cortada em finas tirinhas (claro que, se tiver guanciale, é melhor)
3 gemas de ovo caipira (ou o que tiver na geladeira, paciência)
pimenta do reino preta a rodo (moída na hora)
modo de fazer
ferva água com bom punhado de sal e meta o macarrão nela. agora, numa tigela, bate o ovo, adiciona o pecorino, um pouco de pimenta, mexe e bota no congelador. numa boa frigideira frita o porco e moa mais pimenta nela, reserve. a pasta está al dente? a meta na tigela de ovo com queijo e acrescente o porco. mais pimenta e mexa, jogo rápido. se necessário, permitido colocar uma ou duas colheres da água do cozimento da massa na mistura. corrija queijo e pimenta. pronto. eu gosto de comer na própria tigela pra não esfriar, mas você pode se presentear com um empratamento bonitão.
orna com que?
esse capítulo não terá no livro, porque acho que cada um come acompanhado do que quiser. além do mais, não é todo mundo que aprecia boa birita. mas, como esses dias estão mais difíceis, pra quem quiser, segue aí algumas dicas de goró pra ornar com seu carbonara.
manzanilla
tristeza sour (a cerveja que colaborei com a morada etílica)
1 negroni antes e outro depois (durante, não)
passe bem, lave as mãos, fica em casa. e, apesar de tudo, tente se divertir.