fiz duas ótimas escolhas nos últimos anos. primeiro a de não ter mais carro e segundo a mudança domiciliar para o centro paulistano.
além da óbvia economia financeira (ipva, seguro, manutenção, combustível, desvalorização, etc), não ter automóvel faz com que eu use a cidade como um aldeão e vir pra esse pedaço da cidade me ajudou um bocado.
embora metrô na porta seja bem eficiente nos dias em que não somos abatidos por uma pandemia cuja crueldade os terraplanistas sentirão em suas próprias peles nas próximas duas semanas, o grande barato é andar à pé. caminhar, além de ser um exercício possível, permite que se veja as ruas ao meu redor com outros olhos.
lembro do meu escritor brasileiro preferido, cujas crônicas se passam do terminal luz até a estação presidente altino, sempre seguindo a linha do trem. são paulo operária e sem barrancos que abriga inúmeros botecos que recebem trabalhadores sedentos por uma dose antes de pegar o trem de volta pra casa.
no meio desse furdunço fica o mercado municipal da lapa que, ao contrário do da cantareira, conseguiu manter as características de um lugar que abastece a população. não é à toa que tem um terminal de ônibus – antigamente se chamava ponto final – na frente, além da onipresente estação de trem. ali se compra arroz, bom feijão a granel, miúdos – que já foi comida de pobre -, queijos e aquela azeitona ideal para tirar o gosto da cachaça. quando voltarmos a ser gente, visite esse patrimônio imaterial paulistano. mas vá na moral, sem pagar de foodie, pois esse tipo de comportamento não é bem vindo na lapa antiga.
foi com esse olhar que vi a carreata de rycos pedindo para trabalhar, de dentro de seus carrões importados e trajando máscaras que não tem a menor ideia pra que servem. mais casa grande & senzala, impossível.
sabe o que falta pra cair a ficha da pandemia global nesse gado bobo? brasileiro rico começar a morrer em bando. ou você acha que na hora em que o médico precisar escolher quem vai viver ele optará pelo menino enzo, que nem tão jovem é mais? o colapso hospitalar ainda não chegou, mas está bem próximo.
fique em casa, lave as mãos, cuide dos seus.
hannah says:
(hoje sonhei que pegava o trem da luz até Pirituba)
que delicia era ir com meus pais comprar carne seca e paio pra fazer feijoada lá no mercado da lapa. inclusive até hoje um dos lugares mágicos da cidade pra mim é passar por aquele túnel embaixo do trilho c shopping chão
29 de March de 2020 — 11:19
Marcelo Barbosa says:
Esses ricos são os novos capitães do mato, parafraseando o prof. Paulo Guiraldelli
29 de March de 2020 — 11:24
Carlos Mayer says:
Como você paga as suas contas? Morro de curiosidade!
29 de March de 2020 — 11:51
caipira says:
Parece que paga com dinheiro vivo… não usa cartão.
29 de March de 2020 — 16:13
Rafael says:
Cuida da tua vida. É da tua conta?
29 de March de 2020 — 21:30
Moisés G. says:
Parabéns Júlio, sempre cirúrgico em suas colocações..
29 de March de 2020 — 11:56
Flávio says:
JB, estou lendo “O Lobo da Estepe”. Que livro incrível! Já leu? Abraços e siga firme com o blog, ele é sensacional!
29 de March de 2020 — 18:27
jb says:
dos meus preferidos.
grande livro!
29 de March de 2020 — 18:47
Ricardo says:
JB por onde você se informa sobre as notícias do dia a dia?
30 de March de 2020 — 11:15
Renson says:
Texto ricofóbico!
30 de March de 2020 — 00:14
Thiago says:
Uma ocasião em uma palestra de um sociólogo ouvi que os seres humanos nutrem uma necessidade de versus (um contra o outro) porque não entendemos as diferenças e não aprendemos a cooperar, por isso sempre veremos isso de rico x pobres e etc, porque acreditamos que se somos pobres é culpa do outro que é rico e não nos damos conta que juntos poderíamos fazer mais. O problema é que a classe política enxergou muito antes da gente e alimenta isso para governar em favor próprio sempre.
30 de March de 2020 — 11:29
Bruno says:
Brindemos a João Antonio
2 de April de 2020 — 15:55
Rodrigo says:
Desculpe a ignorância: qual é o seu Autor favorito que você cita sem citar no texto? Abraços.
6 de April de 2020 — 03:37
jb says:
joão antônio.
7 de April de 2020 — 13:54