uma coisa que não disse ontem é que meus pais e avós maternos estão enterrados na goiabeira e que esse cemitério tem valor afetivo para muitos lapeanos.

é bonito ver o romântico apego que alguns de nós temos por quem já foi nessa e também por troços exutéricos tão longe do alcance da razão.

o tempo fez com que eu reduzisse um bocado a zoação com quem tem alguma espécie de credo. e não é por respeito, mas sim por solidariedade. se a fé ajuda a pessoa de alguma forma, pra mim já basta.

desde que o mundo é mundo, o que não falta é religião com gente muito ruim capitalizando em cima de guerras e desgraças. o mal maior que é a igreja católica taí pra comprovar isso, entre outros horrores.

mas não é confrontando o crente que se enfraquece esse tipo de instituição. aliás, muito pelo contrário. tentar se impor só fará com que o religioso se afaste de ti e se aproxime ainda mais daquilo que acredita. além do mais, é preciso certo cuidado pra colocar no mesmo balaio razão com abstrato. eu mesmo não tenho a manha, todas as vezes em que tentei algo parecido foi como dar um tiro no pé. mas claro que sempre terá alguém com raciocínio mais ágil que o teu, geralmente de pensamento muito diferente.

TUDO É REZA! TUDO É REZA! – tal como um xamã apocalíptico, vociferou xico sá no tijuca connection, encontro de todas noites com amigos queridos e notáveis, que mantemos na vã esperança de preserva o que sobrou de nossa sanidade mental.

pode parecer simplista, mas misturar sagrado com profano é um dos maiores desafios desde que nos conhecemos por gente e tentar vencê-lo pode justificar a existência.

já fausto fawcett – aquele que considero como um dos maiores cronistas vivos – diz em recente entrevista que a tecnologia é a religião mais atuante, ao apontar fanáticos segurando seus celulares como se fossem terços, pra atualizar mídias como o scarfacebook.

pra não parecer um et, também arrumei um credo para chamar de meu. é no bar que tento praticar o profano de maneira sagrada, inclusive mantenho no próprio quarto um balcão que pode ser visto como altar, dependendo da ébria perspectiva. tudo é reza.

de qualquer forma, quando morrer, pode enfiar meus restos lá na goiabeira, junto com a parentada. questão meramente estética, o túmulo pode ficar bonito, em forma de um balcãozão vermelho campari. pode chegar junto e beber uma por mim, mas me faça o favor de não desperdiçar goró, dando pro santo ou qualquer ato do gênero.

afinal, quem é que vai querer um drinque depois de morto?