o governador de são paulo promete reabertura gradual do comércio a partir da próxima semana, com direito a funcionamento de shoppings, por mais ridículo que pareça a ação. será que a hora é a mais adequada pra isso?
afinal, quem é que vai querer comprar sapatos agora?
mas o problema vai além. vivemos num país de imensa desigualdade social, onde a tão necessária quarentena tornou-se um fenômeno burguês, já que o mais humilde não tem lá muita escolha, não.
acontece que obrigar a camada mais frágil da população a sair pra pegar uma condução lotada pra servir a casa grande não resolve o problema, muito pelo contrário.
quer dizer, a não ser que você seja um genocida, como demonstra o atual ocupante do palácio do planalto. o prefeito de são paulo infelizmente também parece mostrar disposição pra honrar seu infame sobrenome. hoje ele fará uma declaração, duvido que saia algo bom da sua boca.
estamos na contramão da humanidade e a história será implacável com os atuais governantes. mas quantos mais precisarão morrer pra isso?
há pouco mais de 100 anos foi construído às pressas o cemitério da goiabeira, na lapa, com o propósito de enterrar mais de 14000 vítimas da crise espanhola.
os tempos são outros e não deveríamos passar por isso de novo. até porque a pandemia surgiu num continente distante e passou por vários lugares antes de aportar aqui. um governo com o mínimo de competência tomaria as devidas providências de defesa para o estrago ser menor.
já morreram dezenas de milhares de pessoas e ainda estamos longe do pico da pandemia.
quantos cemitérios mais teremos que construir para enterrarmos nossos mortos, vítimas de uma política genocida?
agora parece comum morrer por conta do vírus mais de 1000 pessoas por dia, fora os óbitos não registrados. perdemos a capacidade de nos chocar. o horror se tornou cotidiano.
mas, tudo bem. a partir da próxima semana teremos à disposição shopping centers para empilharmos cadáveres nas praças de alimentação.
Cássio Almeida says:
👏👏👏 o ideal seria um boicote coletivo, ou seja, as pessoas não irem aos shoppings mesmo reabertos. Mas, obviamente não vai acontecer. A inconsequencia e o senso de responsabilidade não são o forte dos pensadores do seu próprio umbigo.
28 de May de 2020 — 18:59
Victor says:
Julio, não sabia da história da criação do cemitério da Lapa. Boa parte dos falecidos da minha família materna foi enterrada lá. A última vez que estive por lá foi pra ir com minha mãe visitar o túmulo de um tio meu sepultado ali. Inclusive meus avós moravam ali pertinho na Teerã, onde minha mãe nasceu. Ficaram lá uns 60 anos até se mudarem sei lá porque pra Osasco (onde minha mãe foi morar qdo eu tinha uns 5 anos).
Porque escrevo isso? Sei lá, saudades dos meus avós (que diferente do resto da parentada acabaram cremados na vila alpina e não foram enterrados na Lapa, onde se conheceram e passaram a maior parte da vida. Mas a essa altura da vida – ou da morte – pra eles tanto faz). Saudades de ir com meu tio comprar o melhor pão francês que me lembro, numa padoca que ficava numa praça ali perto. Saudades de pegar goiaba, não no cemitério, mas no quintal do seu Paixão, era só pular o muro. Saudades de dormir na casa da minha avó, onde eu podia “ouvir” o silêncio da noite, só com o apito esporádico do guarda noturno, ao invés da cacofonia de bêbados e motor de ônibus a madrugada toda no centro de Osasco, onde eu morava.
A padoca não existe mais, a casa dos meus avós foi demolida e no lugar construíram dois sobrados horrorosos, sem quintal nem jardim, espremidos onde antes havia uma casa onde viveram um casal e seus 10 filhos. Mesmo fim teve a casa do seu Paixão. E pro meu desgosto nem o silêncio eu posso mais ter, com um tinitus 24h por dia nos ouvidos me acompanhando há 3 anos. Mas vida que segue.
Enfim, curto muito os seus textos, e o fato de ter dividido a infância e adolescência entre Osasco e a Lapa dá um sabor especial à leitura.
Gripe espanhola, não sabia dessa!
Se cuida, que esses tempos bicudos hão de passar um dia.
Forte abraço.
26 de July de 2020 — 09:01