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Boteco do JB

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tainá

como fecho o post anterior falando sobre tainá marajoara e seu excelente trabalho de sustentabilidade possível, nada mais justo que replicar o texto sobre a maravilhosa belém do pará, em que dou justo destaque a ela, nossa maga das panelas. três comentários entre aspas no meio do texto completam a postagem. que saudades de belém e da tainá!

vem pra belém, meu bem

a real é que eu morria de vergonha por não conhecer belém do pará, ainda mais na condição de quem trabalha desde a infância com comida no brasil, esse imenso país de dimensão continental.

mas antes tarde do que nunca. pra lá me mandei e voltei deveras encantado com aromas e sabores da cidade. não vejo a hora de voltar. come-se bem em nível absurdo, inclusive na rua.

começando pela família castanho, exemplo de ótima restauração. ativa há dezoito anos no mercado, hoje comanda o remanso do peixe – onde tudo começou – sob a batuta do mestre chicão, homem de talento que envelhece com impecável dignidade enquanto seus filhos thiago e felipe voam baixo no remanso do bosque, restaurante mais moderno, porém com um pé na tradição, onde se come algumas releituras e também um suculento filhote na brasa. mas e o tacacá, thiago? ah, isso se come melhor na rua. quer alguns endereços? mais respeitoso, impossível. pra beber, destaque para a irrepreensível carta de drinks elaborada por kennedy nascimento e também a cerveja com manga da casa. como nada é perfeito, o café poderia e deveria ser melhor cuidado. após tantas boas impressões, a cápsula que patrocina helena rizus destoa um bocado.

{ infelizmente o remanso do bosque fechou durante a pandemia de coronavírus. mas logo os irmãos castanho abrirão outra casa, o que é uma bela desculpa pra voltar }

mas é na rua que fica o mercado ver o peso, monumental patrimônio do estado. tive a honra de visitar bem direito por duas vezes, chegando de madrugada e acompanhando a chegada do açaí e de inúmeros peixes cuja imensa maioria jamais havia visto. as frutas que chegam cansadas na região sudeste com o constrangedor rótulo de exóticas, lá são frescas e naturalmente locais. bom garimpo nos leva aos boxes certos para compra-las. a mera lembrança das castanhas provadas lá me faz salivar e até ótimo tabaco tem. falando nisso, não posso esquecer de levar o rapé amazônico que trouxe pro meu amigo mário bortolotto.

{ descobri posteriormente que trouxe o rapé errado, passei vergonha. como se vê, o que não falta é motivo pra voltar o quanto antes }

existe uma curiosa disputa por quem serve o melhor peixe frito. comi alguns e meu preferido se serve na dona caralha, vulgo biras bar. recomendável chegar por volta das 19h, tempo suficiente pra bater fome após o clássico e chuvoso tacacá das 17h.

um dos principais motivos que me levou a belém foi a moça que atende por tainá marajoara. a primeira vez que ela me chamou a atenção foi no caso da casa das onze janelas, quando com muita classe expulsou de seu território aquele famoso chefe de três corações, que vende a própria família em reclames de caldo de galinha azul industrializado.

{ o trampo de tainá sempre foi um soco de esquerda na cara de chefs como alex atala, henrique fogaça e erick jacquin, cujo lema parece ser “dinheiro na mão, calcinha no chão”. isso não mudou. }

após breve contato virtual, a conheci pessoalmente em são paulo, no parque da água branca, na feira anual de orgânicos organizada pelo mst. me chamou muito a atenção o fato dela fazer compras no local. foi nesse momento que vi que já tinha passado da hora de conhecer belém.

em seu espaço de cultura alimentar, o instituto iacitatá, não há lugar pra nenhum ingrediente industrial. com predominância em orgânicos, absolutamente tudo tem procedência registrada. farinhas do mestre benê, cacau de uma ilha próxima, peixes fresquíssimos, etc.

os almoços servidos de segunda a sábado eram minha maior curiosidade. pois se o rango servido fosse ruim, o discurso politicamente correto cairia por terra, pelo menos pra mim. mas acontece que tainá marajoara cozinha como uma feiticeira, uma demônia, no melhor sentido da expressão. puta que pariu.

a combinação de pouquíssimo sal, zero açúcar, muita técnica e ingredientes formidáveis proporciona uma refeição inesquecível, com destaque para a delicadíssima maniçoba – na noite anterior tinha comido o mesmo prato no lá em casa, restaurante abominável que, embora tenha um passado de respeito, hoje mais lembra uma praça de alimentação de shopping, tanto no ambiente quanto na gororoba servida – e o formidável bolo de chocolate.

alquimista da vida, tainá marajoara transforma utopia em realidade, provando a essa meia dúzia de bunda mole de cheffinhos vendidos pra produtos bosta que é possível viver com dignidade, desde que se tenha vergonha na cara e não se tenha preguiça. seu trabalho é impressionante e só por isso a viagem já vale a pena. se você tiver a mínima condição, pegue a condução mais próxima possível e vá.

até breve, belém. foi do caralho.

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