publico sobre gastronomia etílica desde 2007 e já mantive outros dois sites, antes de ter a ideia desse blog. como tem sido um tanto difícil atualiza-lo diariamente, republicarei alguns textos antigos. abrirei com o sobre um lugar que tinha inaugurado há pouco tempo. um motivo especial me levou tal escolha. acho que esse perfil de restaurante é tudo que não precisamos para o novo mundo que se aproxima. não mexi sequer uma vírgula, mas acrescentei duas notas no meio do texto. até amanhã, se cuide.
currupaco
o restaurante mais humano e respeitoso que já conheci foi o de tainá marajoara, em belém do pará. lá todos ingredientes tem (boa) procedência, só perguntar. lembro de ter brincado com ela, falando algo como se a comida fosse ruim, esse discurso cairia por água abaixo e eu mandaria um x-dengue na rua.
acontece que tainá é séria, talentosa, cozinha como um demônio e é aí que o discurso se banca.
pois bem.
há poucos meses abriu na vila madalena um lugar chamado corrutela, do esforçado pesquisador cesinha, sujeito agradável que tive o prazer de conhecer há alguns anos. fui lá conferir a parada. não uma, mas duas vezes.
só entendi porquê o salão é tão desconfortável, no pior estilo para ver e ser visto, quando soube que o arquiteto é o mesmo da abominável casa de bonecas do vizinho e filho do dono do ráscal. e aí o discurso sobre sustentabilidade já soa um tanto estranho.
{ arquitetos, dentro de suas limitações técnicas, apenas tentam executar as ideias do cliente, que sempre dá a palavra final. não é legal dividir a responsabilidade sobre a bosta feita, como assim o fiz. errou quem fez más escolhas e aceitou de boa o projeto. }
a desastrosa equipe de salão faz de tudo para não atender com simpatia a clientela, essa que por sua vez parece gostar do não atendimento, já que tem lotado o lugar. que pesadelo é ter um restaurante.
já a estrelada equipe de cozinha é de boa e procura atender com eficiência o que o chefe propõe. pena que os garçons se esforçam pros clientes não sentarem nas cadeiras atrás do balcão de frente pros cozinheiros, único lugar legal da casa.
a comida? voltamos ao ponto do primeiro parágrafo. não adianta nada ter moinho pro pão, se o mesmo é tão pesado quanto a bateria do quarto álbum do black sabbath e nem assado direito é. entre os principais, quase tudo é asséptico e as sobremesas são uma catástrofe. só não é pior que a boutique ralston e o lugar daquele senhor que não vê cara, mas tem 3 corações. ah. também não é tão ruim quanto qualquer coisa já feita por aquela ex modelo que agora atua pela nespresso.
ou seja, muito pelo baixo nível do jogo, admite-se que o corrutela nem é tão horrível. na verdade, até pelo pouco tempo de vida, torna-se promissor, embora tenha que melhorar o serviço de café imediatamente. e já dá pra beber os drinks da ótima carta do danilo nakamura. importante mencionar que a azeitona é bem boa. de maneira que por enquanto acertaram com o bar e o fornecedor de azeitonas. parece pouco, mas não é. a maioria não chega a tanto.
{ a boa carta de cocktails foi retirada um pouco depois da publicação do texto e não se tem notícia que o restaurante tenha cumprido promessa alguma. paguei de otimista e errei a previsão. }
aliás, o que enche profundamente o saco nem é o restaurante, que acabou de abrir e espero que se torne bom, mas sim a cambada de entusiastas carrapatos que contaminam as redes sociais com elogios descabidos, atrapalhando inclusive o provável desenvolvimento do trampo dos caras. que o querido chefe saiba filtrar os elogios falsos, tapinhas nas costas, as críticas construtivas e tudo o mais que envolve a complicada operação na qual se meteu.
fenômeno parecido tem ocorrido com o universo dos vinhos. não basta ser bom, tem que ser natural, biodinâmico, etc. por muitas vezes nem bom precisa ser, se é politicamente correto e fede a suvaco de chimpanzé do himalaia já tá valendo, não importa se é um produto com defeitos.
toda iniciativa orgânica sustentável é bem vinda e será aplaudida por esse escriba, desde que não esqueçamos da boa mesa, com comida gostosa e bebidas de qualidade. aprendam com tainá marajoara.
SFerrari says:
taí um tema que eu adoraria ler: Azeitonas, qualidades, melhores marcas, onde encontrar, com o que comer/beber! Que tal? Abraços
23 de April de 2020 — 15:59
Leonardo says:
azeitona verde gordal a granel. compra-se no sacolão de santa cecília. beba com um jerez manzanilla – gosto muito do la guita, vendido pela zahil.
23 de April de 2020 — 19:08
Sérgio says:
Por falar em Cacique Maravilha, taí um vinho ruim da porra. Se é que dá para chamar isso de vinho.
23 de April de 2020 — 19:58
jb says:
uma vez vista a garrafa na rua, pode chutar que é macumba.
24 de April de 2020 — 12:20