infância, anos 80. quando engatava a terceira marcha rumo à falação desenfreada minha mãe me lembrava que existe uma razão lógica para o fato de eu ter dois ouvidos e uma boca. aprendi a ficar mais de boa.
quietude.
novo milênio, velhos hábitos. quando começo a publicar sobre gastronomia, os aparelhos telefônicos móveis ainda não tinham se tornado patrões das pessoas, mas já se apresentavam em suas mãos sem a menor timidez. a necessidade das pessoas de se expressar é que eliminou sua capacidade de contemplar. situação que vai contra o texto, pois se eu ficar no balcão do bar atualizando mídias sociais, é mais difícil caçar assunto pra escrever sobre o que talvez interesse de verdade. sem contar que a comida esfria, o drink esquenta, etc. incrível como a qualidade de vida pode ir pro saco assim por coisas simples e ninguém dá a mínima.
e a coisa só piora. já faz alguns anos que a principal mídia social funciona em torno de uma foto ruim com uma legenda qualquer. minimalismo no sentido mais tosco possível. por isso voltei a blogar. textos novos todo dia, sem retrato, sem selfie, tal como um exercício literário. o resultado nem sempre é o esperado, mas a terapia é ótima. e, se conseguir fazer com que meia dúzia de pessoas parem seu dia pra ler um texto médio, já valeu a pena. admito que tem sido difícil achar tema pra atualizar o diário com a frequência comprometida, mas ainda estou aqui.
vivão e sem mandar mensagens de áudio, a nova praga imposta por essa tecnologia nefasta que robotiza as pessoa tudo.
nada mais narcisista que mandar tal mensagem. porque você não a manda para o outro, mas para você. já que não é capaz de ouvir o próximo, então ouça a si mesmo, assim que funciona na prática.
e ainda tem a inutilidade da bagaça. uma mensagem de áudio nunca tem razão de existir. recados rápidos, tais como tô chegando podem ser escritos ou apenas não comunicados, de tão rasos que são. já as longas podem ser realizadas de maneira escrita, se não for possível um encontro físico. assim existe comunicação. o áudio anula o diálogo.
a tecnologia está aí para te servir, não o oposto. não seja escravo dela.
Flávia says:
É isso aí, JB! Tb estou tentando controlar as mídias que uso e, enquanto o mundo da gastronomia submerge no podcast (uma longa mensagem de áudio disponibilizada em aplicativos concebidos pra vc ouvir música), estou voltando às mídias esquecidas – como a newsletter. Se tiver curiosidade de ler meus textos a cada 2 ou 3 semanas (não floodo caixas de entrada), é só se cadastrar nesse link: https://us17.campaign-archive.com/home/?u=3a6c6effff97a0d8a8fe28337&id=c8b700b435
E sigamos nesse exercício analógico de pesquisar, pensar e escrever.
Abs,
Flávia
20 de February de 2020 — 10:56
nabuco says:
podcast é um saco. deve ser util para quem dirige varias horas.
eu – falo por mim( e por quem falaria mais?) – não tenho a menor paciencia de ficar diante de um pc ouvindo um gajo falar. e se deitado, com headphones, é muito mais negocio uma boa musica.
20 de February de 2020 — 11:54
Paulo Tomasi says:
Podcast é o áudio do whatsapp institucionalizado
29 de February de 2020 — 21:11
Tonho says:
critica social foda
20 de February de 2020 — 11:07
nabuco says:
dando conta – e bem – do recado. todo dia um texto novo e quase sempre bons.
adelante cavalheiro andante!
20 de February de 2020 — 11:51
Alberto Darakdjian says:
Que ótimo que voltou a alimentar o blog! Já o lia quando dos textos do Tristeza e a partir de então comecei a lhe seguir pelo instagram. Mas, acompanhá-lo por aqui (o que faço diariamente) é muito melhor. Continue, por favor!
20 de February de 2020 — 12:07
Mauricio says:
Seus textos continuam bons, como os do blog anterior. Mas é evidente como antes era mais pujante em termos de debates nos comentários. A internet 2.0, da era dos blogs, foi uma experiência interessante e de vida curta. Cada nova rede social que surge o texto diminui e a foto se amplia.
20 de February de 2020 — 12:08
Rafa Oliveira says:
Porra como sou burro, não sabia que podia comentar!
Tenho gostado muito dos textos estando mais ou menos na mesma faixa etária eu me sinto da mesma maneira que você nos dias atuais.
20 de February de 2020 — 20:04
Cassiano says:
Que belo texto. Faz uns anos o Forastieri recomendou em seu extinto blog a biografia do Montaigne (“Como viver…”). É um dos meus livros preferidos. Guardei este trecho:
“Ele passaria a prestar atenção às sensações e experiências, não pelo que poderiam representar ou pelas lições filosóficas que pudessem conter, mas para efetivamente senti-las. Ele se deixaria levar.”
20 de February de 2020 — 23:34
Ernestão says:
Desculpe Julinho. Faço parte da meia dúzia de seus leitores. Acompanhar seus textos são para mim um enorme prazer e não é em hipótese nenhuma desperdício de tempo. Tenho todos seus livros. Só a derrota e o torresmo salva !
21 de February de 2020 — 04:07
Alexandre Bergsten Cavaleiros says:
Li ou ouvi não lembro,você reclamando que acha que o público de suas mídias sociais não se comunica,parecem ser diferentes e de fato também acho isso e vejo JB’s diferentes apesar da contundência das expressões tradicionais e a acidez sem freio que o caracteriza essa diversidade aparente torna você um cara a se ouvir e ler.
21 de February de 2020 — 05:47
Tercio says:
Concordo. Mensagens de áudio são realmente um saco e apenas ouço quando inevitável, como em questões de trabalho, por exemplo.
21 de February de 2020 — 07:34
Eduardo says:
Pior ainda são os áudios relativos à mensagens de trabalho. A pessoa passa uma série de detalhes sobre o que precisa e quem escuta tem que pegar uma caneta e um papel para anotar. Fosse escrita a mensagem, teríamos mais facilmente os dados em mãos. Mas não, as pessoas insistem nas bostas das mensagem de áudio também por preguiça de escrever. Uma grande bosta.
21 de February de 2020 — 10:51