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Boteco do JB

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sarna negra

ainda não me acostumei direito com as plantas. é como se o local onde moro a elas pertencesse. respeitoso e cerimonioso que sou, vou aos poucos com a relação, essa que por sua vez vai bem. baby steps, como diria aquela velha personagem de bill murray. inclusive uma das que estava pra morrer começa a dar sinais de ressurreição, tal como lázaro. será que minha principal tarefa na meia idade será estudar o delicado elo entre a vida e a morte de plantas de apartamento?

quando petisco começou a apresentar certo inchaço em volta de seu olho direito alguns veterinários me alertaram sobre a possibilidade dele ter reação alérgica a alguma planta. sem a menor base técnica, usei o instinto para mudar de posição o que achava que oferecia algum risco, mas o dog não melhorou. o que fez com que o levasse ao seu veterinário, lá no emblemático edifício copan.

pomada pro lixo, remédio paliativo pra dentro e exames realizados num laboratório perto do parque da água branca, onde o dog tocou o terror.

os resultados chegaram na semana passada, após um mês de espera. as suspeitas de alergia e dermatite foram prontamente descartadas.

a sarna negra exigirá cuidado especial com o bichinho até o fim de sua vida, tomando banho com shampoo especial e também uma ou duas drogas que, dependendo da evolução da doença, podem atingir seu fígado de maneira pouco agradável.

além do óbvio cuidado clínico, é preciso carinho e atenção, já que o ideal é que o paciente em questão não passe por situações de stress, para o sua imunidade não baixar. eu estou fazendo minha parte, creio que as plantas também trabalharão de maneira positiva e eficiente.

nesse fim de semana fui a fazenda de uma amiga que realiza um trabalho lindo vendendo ervas orgânicas, flores comestíveis e mais uma par de coisas, para visitar seus pais, pugo e puga. deborah, filha do lendário john orr, amiga e dona do negócio localizado na agradável cidade de cerquilho, foi quem me deu o animal.

outro amigo, grande cozinheiro japonês, foi companheiro nessa missão. profissional estudioso, fez sushi de wagyu com boa carne de uma fazenda vizinha, chashu com porco comprado no açougue da vizinhança e um esplêndido mexilhão cozido na gordura da mesma carne do bosque belo. acompanho o trampo de tadashi shiraishi há bastante tempo e digo com segurança que ele despontará como um dos grandes representantes da boa mesa nipônica no brasil. o único risco de dar ruim, é se ele deixar se afetar pelo famigerado cenário gastronômico brazileiro, mas sinto que dessa vez ele está no caminho certo.

após 2 anos, finalmente peguei o pedigree do cãozinho. pra minha surpresa, descobri que ele, embora tenha vindo de outro criador, é primo dos falecidos shoyu e negroni. e isso me comoveu feito o diabo.

shoyu, negroni, gillan e melissa. carrego comigo a lembrança de momentos passados com meus saudosos cachorros e arrisco dizer que isso foi o ponto alto da minha vida. cuidar de um cachorro é bem legal.

hoje é dia de finados e é inevitável que também me recorde dos meus pais, mas isso é assunto pra outra hora. o que quero pontuar aqui é que celebrar uma vida de ciclo fechado pode ser mais saudável que a inevitável lamentação da morte.

e também, é claro, festejar o que ainda se está vivo. falando nisso, agora peço licença para regar as plantas e em seguida passear com petisco. talvez iremos caminhar no elevado, que abriu novamente para pedestres ontem. será que vai virar parque ou vão botar pra baixo essa aberração? bem, atualmente a melhor maneira de aproveita-lo é em caminhadas, exercício esse que tolero e faz bem para as condições clínicas tanto minha quanto de petisco.

mais tarde celebrarei a semana internacional do jerez no novo endereço da cassia campos e daniela bravin, duas sommellièrs que fazem um trampo bacana na cidade não é de hoje.

será que jerez orna com sushi? acho que sim, apostaria nesse casamento. fiz a associação porque ontem foi dia internacional do sushi.

o ideal é que celebremos a boa mesa todos os dias, na medida em que nossos espíritos e bolsos puderem alcançar.

feliz dia de finados, camaradas.

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