os anos 90 do século passado foram bem divertidos, especialmente para quem gosta como eu de ir em shows de rock.
moeda forte, o que não faltava era a presença de bandas de grande porte. com décadas de atraso, elas chegavam no brasil embaixo de uma caralhada de críticas, que os chamavam de dinossauros do rock. acontece que esse senhor que vos escreve agora na época era adicto do estilo clássico que ouço até hoje.
na verdade esses xingamentos vem de antes. quem tem mais de 45 anos bem deve se lembrar da primeira vez em que o jethro tull veio ao brasil, em 1988, quando subiu ao palco usando cadeiras de rodas de rodas e muletas, numa bem humorada reação às gentis manchetes da semana.
admitamos que até hoje quase ninguém aporta por aqui no auge. mas o mundo como era acabou e tão cedo não teremos shows ao vivo, de maneira que novidades não nos interessam mais.
voltando aos anos 90, a programação dos velhos precoces como eu que saíam na noite da cidade de são paulo era mais ou menos a seguinte: durante a semana shows internacionais no olympia e no palace, no fim de semana o aeroanta era a balada, com shows nacionais e algumas variáveis sobre o mesmo tema. levo comigo inúmeras boas lembranças de shows como black sabbath com dio, ramones, peter gabriel, yes, motorhead, the exploited, faith no more, entre outras coisas.
tínhamos que ficar espertos pra saber quando rolaria algo que presta no aeroanta durante a semana, como raimundos e chico science. no fim tudo dava certo. o único cuidado a ser tomado era o de ligar antes na casa pra se certificar que o capital inicial não iria tocar. porque há limites para a tolerância, há limites! essa banda já era o resto do excremento do cavalo do bandido desde muito antes de estourarem com seu estúpido aCÚstico.
virou o milênio, muito tempo se passou e uma pandemia mudou o mundo, inclusive o artístico. no brasil falta bom senso e sobra live. fica a impressão de que se corre o risco de ver um sertanejo berrando com uma latinha de itaipava na mão ao abrir a geladeira.
e é nesse clima tenso que presenciamos a ressurreição do maldito capital inicial, nossa bosta phoenix brasiliense, apresentando a pior versão da galáxia de uma excelente banda britânica, o queen. aos brasileiros resta apenas orar para a inglaterra não declarar guerra ao brasil.
hoje também morreu um dos maiores roqueiros da história, aos 87 anos. tive a honra de vê-lo em cena ao lado do seu comparsa chuck berry e passarei o dia o ouvindo, para esquecer da existência daquela infeliz voz de matraca. será um bom dia.
Jorge Freire says:
Tive também o prazer de ver Little Richard e Chuck Berry no tobogã do Pacaembú. Saudades Free Jazz Festival.
9 de May de 2020 — 14:22
Maurício says:
Belo texto.Saudsdes desse tempo que não volta
9 de May de 2020 — 21:57
Bernardo Souza Lima says:
Confundi o título com “Mustang Sally” e por um momento achei que o Buddy Guy tinha morrido. Deve ser o maior bluesman vivo. Perder o Little Richard é tão ruim quanto…
Vou nesse show de 88 que o Jethro Tull foi vaiado? Meu pai já comentou algo do tipo faz tempo, não me lembro bem.
9 de May de 2020 — 22:07
Andre says:
Saudades do Dogão do Chernobyl! Quem frequentou o Aeroanta conheceu!
10 de May de 2020 — 21:41
Alexandre C. Barroso says:
“…fica a impressão de que se corre o risco de ver um sertanejo berrando com uma latinha de itaipava na mão ao abrir a geladeira.”
hahahahahahah tá foda mesmo.
11 de May de 2020 — 11:37
André Hartel says:
Black Sabbath com Dio é um sonho (impossível agora, aliás, já que ele morreu). Os dois discos que eu mais gosto do Black Sabbath são Heaven and Hell e Mob Rules, ambos com Dio.
11 de May de 2020 — 19:50