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Boteco do JB

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cronistas urbanos

quando falo que aldir ia além do rio do balneário digo que ele nos mostra uma cidade possível, com gente com os pés no chão, não no morro, nem na areia bossa nova, ambientes tão caricaturizados por autores de escrita pouco atraente.

aldeão tijucano, cronista urbano do homem comum, seu trabalho tem, além do indiscutível talento, notável honestidade intelectual. transformar realidade em fantasia tão boa é mérito de poucos.

talvez o similar paulista seja joão antônio, meu escritor brasileiro preferido. não à toa, depois de sua morte, demoraram quinze dias pra achar seu corpo em copacabana. e aldir, sem plano de saúde, se foi num hospital público. verdadeiros gênios não devidamente recompensados durante a vida, maldita desonra que não é exclusiva de brasileiros.

copacabana que é tão bem mostrada por fausto fawcett, aquele que considero como o maior cronista brasileiro vivo. segue bem e no auge. costumo dizer que o ponto mais alto da minha vida com pretensão artística se deu na noite em que dividi palco com ele, mário bortolotto e xico sá.

só tinha visto show solo do fausto no milênio passado, aeroanta, noite histórica com loiras performáticas e banda boa pra porra. perto do ápice da apresentação, acaba a luz, mas os encantados da plateia pouco se importam, tudo certo. ano passado, décadas depois, fui em outro show dele, na famigerada zona sul carioca. enquanto o artista se apresentava de maneira impecável, o público playboy se limitava a zurrar calcinha! calcinha! o tempo inteiro. profissionalíssimo, seguiu até o fim como se tivesse cantando no royal albert hall. e ele ainda tem livros tão maravilhosos quanto pouco lidos.

citei brevemente o marião, né? então, além de ser um monstro da dramaturgia brasileira, ele comanda um pequeno teatro e um dos bares mais legais de todos os tempos. mas infelizmente poucos se interessam pelo negócio, que tem que contar níqueis todo mês para ver se consegue se manter aberto.

falei do xico também, ninguém escreve com tanta fluência. se encontrá-lo no buteco, pode dar pra ele um guardanapo sujo e uma ou duas palavras quaisquer. em no máximo 5 minutos ele te mostrará o que é uma canetada de verdade, o que se dá pra fazer com uma bic. xico sá faz parecer fácil o ofício de escritor. claro que também não é assim um fenômeno de vendas.

um país sério ergueria bustos para todos os cronistas citados nessa postagem e pra mais uma caralhada de outros que não vem ao caso agora. os homenagearia em vida e daria ao menos condições mínimas pra se sustentarem enquanto escrevem.

mas isso nunca vai acontecer. que venha a próxima live neo-sertaneja, então.

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