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Boteco do JB

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clubismo

gosto muito de um restaurante quatrocentão nos jardins, cujos lindos móveis foram herdados do bar do jockey club do rio de janeiro.

ali o chef, que está nesse posto desde o fim do último milênio, desfila elegantemente pelas mesas sugerindo a boa da noite, que pode ser um arroz de galinha d’angola, um polvo ou até mesmo uma massa com ragu de lingüiça e rúcula. se ele não passar por você, peça pra alguém chama-lo. em voz baixa, naturalmente.

certo mesmo é que, seja como entrada ou principal, sempre pedirei o excepcional trenette com tomate e manjericão. de longe, minha massa preferida na cidade. são paulo é uma farsa gastronômica tão imensa que é muito, mas muito difícil achar esse prato tão simples com um mínimo de excelência. nem precisaria ser fresca a massa, poderia ser um espaguete, etc. o ponto é que é raro. parece que todos italianos que não sabem cozinhar vieram pra cá, mais especificamente pros lados do bixiga. aí acontece que se valoriza ainda mais o prato destacado nesse parágrafo.

os drinks são absolutamente dispensáveis. mas, pra compensar, não se cobra taxa de rolha. é lugar pra levar vinho do bom, pra ornar com o rango. dizem que aquele velho engenheiro libanês que já foi prefeito e governador armazena parte de sua valiosa adega por lá. não sei se é pensamento muito nobre de minha parte, mas já sonhei em roubar essas garrafas numa madrugada qualquer. todas elas. ok, admito que já até fiz planos de ação. mas infelizmente daria com os burros n’água, não sou do ramo. imagina só o tamanho do mico do flagra.

as tais sugestões do chefão não estão no cardápio, esse que por sua vez jamais deve ser aberto, a não ser que aprecie olhares tortos por parte da bem alinhada equipe do salão. sobremesas e café também não devem ser pedidos. e nunca vá nos fins de semana, quando o estridente piano berra no seu ouvido. prefira as noites de segunda e terça, entre 19h e 20h, com reserva.

ressalto: lugar pra levar vinho, comer o trenette e a sugestão do chef. o restaurante se assume como quatrocentão e não tem o menor interesse em novidades, embora corram boatos que até cartão anda aceitando. mas é claro que quem tem o mínimo de senso de noção levará dinheiro vivo pra pagar a conta com serviço e boa caixinha.

quase esqueci que, se você pedir com jeitinho ao garçom certo, ótimas batatas portuguesas serão servidas. elas devem ser comidas antes do prato principal. se você conseguir pedi-las no lugar do fraco couvert, a chance de ganhar algum respeito do garçom é considerável.

tudo isso pra dizer que são paulo é um imenso clube, com regras e etiquetas de comportamento, desde o lugar mais simples até o mais sofisticado, passando pela garagem com pretensões modernas, portinhas, etc.

chato? ultrapassado? depende. aí teria que analisar porta por porta, aqui só descrevi uma delas. a postagem é mais descritiva que crítica. a ideia é mostrar como funciona, para ajudar o comensal. aliás, sempre escrevi para a freguesia, não para os chefs.

em são paulo, sabendo usar não vai faltar.

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