por mais que se programe, a real é que a vida quase sempre destrói os teus planos de maneira implacável. você não é especial e jamais envelhecerá tal como ringo starr.
um estilo de fracassado com o qual me solidarizo um bocado é aquele que quase chegou lá, aquele que sentiu o gosto do auge por breve momento, enquanto contemplava a ribanceira pela qual deslizaria daqui uma fração de segundos.
falemos de peter frampton.
grande guitarrista, bom cantor, hitmaker e dono de uma beleza que não cabia em si.
cada país tem o lulu santos que merece.
pois é.
não me lembro de outro caso de guitar hero destruído pela própria beleza física. no ano de lançamento do disco de sua vida – um ao vivo, outra raridade – seu peito nu apareceu nos mais diversos magazines espalhados por quase todo planeta.
mas, apesar da aparência de surfista, peter não se sentiu à vontade pra surfar nessa onda de galã e caiu no ostracismo na década seguinte. os anos 80 não fizeram nada bem pra geração anterior, bowie que o diga. aliás, peter tocou com ele na horrorosa glass spider tour, se tornando cúmplice do crime de divulgação do pior álbum da carreira do camaleão.
quando o vi ao vivo, nos idos de 1995, no saudoso olympia, templo lapeano do rock, ele estava no meio do processo de mutação que o deixaria com a cara do paul rabbit. menos de 800 pessoas na platéia, público de portuguesa x novorizontino pra quem já se apresentou em grandes arenas. mas tocou e cantou muito, como se estivesse em wembley. profissionalismo é isso aí, assim escreveu um dia aldir blanc, tratando de outra parada.
no ano passado o herói que estrela esse texto revelou que sofre de uma doença degenerativa que dentro em muito breve o impossibilitará de tocar guitarra, sua fiel companheira há tantas décadas. junto com a declaração clínica, o anúncio de uma tour de despedida.
vi um dos shows numa mídia qualquer e me programei pra ir. se as coisas dessem muito certo, veria em londres. se desandassem, o plano b era ver aqui em são paulo, pra onde ele viria em setembro, se a tour não fosse tristemente cancelada, devido a pandemia que abala o mundo e atropelou os planos de despedida de peter.
seu lugar no pódio dos guitarristas cantantes está entre george harrison e eric clapton, não à toa fechava os últimos concertos com while my guitar gently wheeps.
eu não sei onde ele estará quando a vacina chegar, mas espero que você esteja bem. e que seus planos não sejam interrompidos por pandemias, nem por doenças degenerativas.
não tão velho para o rock, nem tão jovem para morrer.
Cássio de Oliveira Almeida says:
Lembrei de uma frase num bar em Porto Alegre, “A vida não tá nem aí para teus planos”.
13 de July de 2020 — 11:24
Lino Ramos says:
Essa coisa de viver nem sempre combina com querer. Adelante!!
14 de July de 2020 — 07:21
Pedro Neto Alves says:
JB, gosto muito do seu blog, te acompanho desde 2015 que eu me lembre. Gostaria de saber sua opinião sobre o fechamento do PASV, restaurante clássico do centro de São Paulo. Sou do estado do Rio de Janeiro, e fui ao local duas vezes. Gostei muito da comida e do preço…rs. Enfim, vida que segue. Você gostava do PASV? Abraço.
16 de July de 2020 — 11:39
jb says:
eu adorava o pasv
e o cliente número 1 de lá escreveu seu obituário aqui nesse balcão virtual.
https://botecodojb.com/por-um-mundo-com-mais-pasv/
16 de July de 2020 — 11:46
Alexandre says:
Jb me desculpe os erros ortográficos e tudo mais eu não só chick nem culto mas curto a alguns anos o seu canal no YouTube então nunca pare com o canal la aprendi bastante um grande abraço de um fãn e olha q eu nao so fãn de ninguém nessa porra tmj
17 de July de 2020 — 01:48
Serginho Carnevale says:
Peter Frampton é fantástico. Lembro de quando alguma pessoa, em um barzinho, colocou “Breaking all the rules” em um intervalo de uma banda mais metidinha, em um local que fui. A sensação era que o ingresso cobrado valeu por causa desse som.
Pena que poucos, além de você, tenham apreciado o show, no Olympia.
4 de August de 2020 — 19:09