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lindolfo

o presidente fernando affonso collor de melo anunciou hoje numa rede social que no momento lê “o pecado original da república”, de josé murilo de carvalho. quem me dera ter paz de espírito para ler nesse momento tão difícil, certo que a buscarei. mas, já que o filho de arnon parece bem disposto, quem sabe ele não se anima e compartilha um pouco das histórias políticas que envolve sua família, desde seu honrado avô?

filho de imigrantes alemães que chegaram no brasil no começo do século retrasado, nasceu em são leopoldo o menino lindolfo collor, cujo sobrenome foi emprestado do padrasto que o criou.

já em porto alegre, torna-se seminarista, carreira que logo larga para se formar como farmacêutico, profissão que jamais seguiu. não sei exatamente por qual motivo vai parar em bagé, onde publica dois livros que ninguém leu, mas escreve por um ano num periódico, começando assim bem sucedida carreira no jornalismo.

apenas com 21 anos nosso herói aporta na então capital federal e segue escrevendo na imprensa, o que abriu contato para sua entrada na política, em 1913, através do gabinete do ministério da agricultura.

um pouco depois lança seu terceiro livro, que pelo menos uma pessoa leu, o crítico literário gilberto amado. ao encontra-lo na rua do ouvidor, collor ficou pistola e jogou seu desafeto no chão. esse que, por sua vez, sacou uma pistola de verdade e a disparou uma série de vezes, encravando os tiros nas paredes da histórica livraria garnier. collor saiu ileso, mas arrega e não publica mais nenhum livro. a carreira política não se mostraria mais segura.

a partir de 1921, quando se elege deputado estadual com seu colega getúlio dorneles vargas, a vida fica mais agitada e juntos eles se envolvem em loucas confusões, com uma turma do barulho.

em 1929, durante o segundo mandato como deputado federal, funda com gegê a aliança liberal, mirando oposição a tudo isso que está aí. no dia seguinte ao assassinato de joão pessoa, inicia um histórico discurso com as palavras: “presidente da república, o que fizeste do presidente da paraíba?” tal cenário só acelerou a revolução, que logo se transformaria numa ditadura.

pouco antes do golpe, getúlio vargas leu sua plataforma de governo, na qual prometia-se uma legislação de direitos trabalhistas. adivinha quem foi o ghost writer do gegê? pois é.

em 1930 a coisa tava feita e collor reivindicou a criação do ministério do trabalho, o que getúlio fez para aquietar o alemão, segundo suas próprias palavras. as leis trabalhistas, que atualmente estão ultrapassadas, representaram um avanço social histórico, ainda mais num país que tinha saído da escravatura há tão pouco tempo. esse foi o grande legado de lindolfo.

mas o brilhante mandato se encerrou com apenas 15 meses, quando lindolfo lutou por nova constituinte e eleições, antes até da constrangedora revolução constitucionalista paulista. ditador não gosta dessas coisas e o desentendimento levou o agora ex-ministro a um primeiro exílio em buenos aires.

em 1934 uma anistia permite a volta ao brasil, sempre persistindo na oposição ao seu ex aliado, que instaura em 1937 um duro golpe de estado, denominado infamemente como estado novo. o bicho pegou nesse período.

transações comerciais e completo domínio da língua alemã levaram lindolfo à terra dos seus pais em pleno pré-guerra. de lá mandou para o brasil uma série de artigos condenatórios contra o abominável sistema nazista. os mais duros foram censurados pela nossa ditadura, que até então cultivava ótimas relações com o nazismo, que viriam a ser rompidas só no final da segunda guerra, aos 48 do segundo tempo.

após breve passagem em portugal, é negociado o retorno de lindolfo ao brasil. mas, assim que chega, dá uma entrevista em que repudia todo e qualquer tipo de ditadura. é preso, naturalmente. e na prisão pega uma pneumonia. se transfere para um hospital, é feito todo um corre, mas morre em 21 de setembro de 1942, com apenas 52 anos. deixou 2 filhas, 1 filho, pouco dinheiro, muita dignidade e boas histórias pra contar.

e aí, presidente? se anima a fazer um livro com os causos da família? mas tem que me contar tudo…

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