uma das coisas mais legais em publicar um livro é a oportunidade de lançá-lo em diferentes cidades. quando possível, ainda tenho a cara de pau de resgatar pessoas da cena audiovisual local pra gravar uns bagulhos pro meu famigerado canal no youtube. alguns dos programas mais legais foram gravados em belém do pará, pra onde estou louco pra voltar.
profissionais gente fina que entram no espírito de guerrilha do canal, trampando por meia dúzia de copo meio vazio e olhe lá.
o meu papel tento cumprir, gerando conteúdo até que razoável sem me vender pra marca de tempero pronto tosco, lingüiça com salitre, cápsula de café, etc.
e isso não é autoelogio, é obrigação. questão de honra e vergonha na cara.
repare que nem falo mal da indústria. há produtos bem ok por aí. mas jamais faria merchand de algo que não consumo. meu maior patrimônio é minha propriedade intelectual. o dia que perder isso tô fudido.
ética essa que trago pra todo trabalho que faço. no ano passado estive em curitiba pra lançar o último livro. aliás, que cidade legal. moraria lá fácil. ar puro, bons cafés e gente sem falsidade. quer dizer, pelo menos os que me receberam.
equipe montada e três ou quatro programas gravados. logo no ar. até cerveja fiz com um amigo querido e dono de talento único.
nesse momento a sucursal paulistana mexe na edição dos programas paranaenses, tá quase pronto. demoramos, mas caprichamos.
e é nessa função que estávamos quando soubemos que o dono de um bar onde filmamos socou uma mulher.
um soco numa mulher.
não preciso nem dizer que o material já foi pro lixo. à merda, ele. que se foda.
como o assunto está em evidência, a audiência do que jamais irá ao ar seria bem alta.
mas a vida não é só isso. seja decente contigo, com os teus, com todos. foda-se os likes, etc. podemos e devemos ser pessoas melhores.
agora, parando pra pensar, me chamou atenção um troço. qual é probabilidade de ser legal uma figura que batiza seu próprio bar com o nome de um jogador de futebol que batia em mulheres?
fui ingênuo e burro. ainda bem que nesse caso a demora em publicar no canal jogou a favor. sem dar ibope pra esse tipo de gente.
que morra e apodreça entre burgers bosta e chopps de caneca congelada na unidade inferno do madero.
Antonio says:
Magrão que você conheceu…. parecia um cara bacana, mas depois desta semana nunca mais apareço no lugar.
7 de February de 2020 — 11:06
Guto Leão says:
Excelente desfecho.
7 de February de 2020 — 11:17
Luiza says:
Nao me leve a mal, mas o seu restaurante tambem não tinha nome de dona de escravos? Não acho que isso signifique apologia ou qualquer coisa além de uma desatenção para o impacto que o nome pode causar a quem for mais atento – tal como o bar que faz referência ao jogador que eu não sei quem é. Ainda quanto ao bar, acho difícil separar o autor da agressão da comida que eh sua obra. Ou os diretores, escritores e pintores de seus filmes, livros e quadros. Confesso que não tenho opinião formada sobre se devo continuar lendo, assistindo ou admirando obras de assediadores hoje notórios. Idem para a comida. Acho até que seria legal te ouvir a esse respeito.
7 de February de 2020 — 16:07
Caioso says:
O jogador é o Garrincha, o torto bar não é conhecido pela sua comida e sim um ponto de encontro de Curitiba
7 de February de 2020 — 22:39
Caioso says:
jb, pau no cu do torto, ao lado tem o erva doce bar, com smash burguer a 15 reais, pão,ketchup, burguer tudo feito na casa, cachaças brancas do interior, sem resíduo, chopp da cervejaria xamã pelo mesmo preço da 600 do torto (pequena cervejaria de Curitiba, mas que respeita a porra do clima tropical que vivemos), enfim, pau no cu do torto, a trajano reis tem mto mais a oferecer do que um boteco metido a hipster.
primeiro comentário que deixo, afinal, sempre parecia banal, mas dessa vez não deixei passar, mto feliz por ter opinado e conhecido Curitiba ( minha cidade natal).
Continue seu belíssimo trabalho de critica.
Abraços
Obs:qndo vier a curitiba experimente o frango passarinho do bar do dante, além de conhecer a central do abacaxi
7 de February de 2020 — 17:27
João Paulo says:
JB, sempre segui você no YouTube e no Instagram. Comprei dois de seus livros, inclusive tenho o Edifício Tristeza como antológico (li duas vezes). O principal motivo de segui-lo é por você, até então, não rezar na cartilha do asqueroso e nefasto Politicamente Correto e não passar pano pra lacrador e militante debilóide. Mas algo mudou, já tem um certo tempo que a sua postura vem cada vez mais sendo politicamente correta e infantil. Uma pena, lamento muito que um cara legal como você estar se tornando um Milênio do tipo eterno adolescente e lacrador nutella. Isso sim é uma grande derrota para mim e para os poucos sobreviventes/resistentes do século XX.
8 de February de 2020 — 00:46
jb says:
seguimos não passando pano pra ninguém. especialmente pra quem SOCA UMA MULHER. acho que isso vai muito além de qualquer militância. em tempo. antes de decidir não colocar o vídeo no ar e publicar essa postagem, claro que apurei os fatos.
8 de February de 2020 — 12:40
Eduardo says:
JB,
como o João Paulo acima, também sou seguidor de longa data. Li todos os livros que você já publicou. Fiquei muito constrangido lendo esse texto, custa muito acreditar que a mesma pessoa que escreveu ‘Dias de Feira’ excretou o que acabei de ler.
O Arlindo não deu um soco numa mulher e ponto. Houve uma confusão no bar com uma cliente escrota, agressiva, desrespeitosa, possivelmente drogada, caçando confusão. Se fosse um homem, acabaria levando um soco e não se fala mais nisso, ninguém prestaria a menor atenção. Como se trata de uma mulher, justificadamente há uma reprovação social maior a que se recorra à violência para resolver a situação. Ele se excedeu e errou a mão numa confusão não iniciada por ele. E foi isso. O quê exatamente no caso justifica uma reação com essa virulência? Escrevendo um texto desse e tomando essa atitude de não publicar nada do material que gravou ali, você faz coro com um exército de hienas vomitando uma infinidade de narrativas esquizofrênicas, nas quais xingam o cara de racista e misógino sem sequer o conhecer, atacam em massa de forma covarde pela internet a honra de uma pessoa, organizam campanhas de boicote, fazem manifestações cheias de ódio no próprio bar. A sua insistência em repetir ‘SOCOU UMA MULHER’, sem nenhuma contextualização, como se não houvesse gradação nenhuma nas coisas, como uma fatwa de algum mufti tresloucado acusando um apóstata da religião do século 21, é absolutamente histérica, cega, fanática. Os apelos de que as coisas não são bem assim são imediatamente descartados como ‘passar pano’. É uma atitude religiosa, subserviente, animalesca, rancorosa, pequena, digna dos piores e mais alienados crentelhos que você tanto critica. Então a sua atitude não está “muito além de qualquer militância”. É militância da mais vagabunda, totalmente derivada de e apoiada em tudo a que você se coloca sempre como contrário. Sempre considerei, acompanhando seu trabalho, que a sua postura não se limita meramente a uma nostalgia pela comida de antigamente, pelos restaurantes de antigamente, mas é antes de tudo uma sensação de perda e estranhamento frente a uma forma de vida que não é mais a sua, do esfarelamento de um modo de viver que tinha uma sutileza e uma harmonia que não são mais reconhecidas. Mas isso não faz o menor sentido se você adota imediata e levianamente tudo de mais descompensado e neurótico que a época corrente oferece. Parece-me extremamente ridículo alguém que só usa dinheiro vivo, que critica detalhes que revelam falta de cuidado nos restaurantes, que lamenta em tantos textos a vulgarização, a indiferença, a mecanização, a confusão sem fim e a falta de identidade de tudo (não só comida e bebida) atualmente, mas tem uma atitude psicológica e existencial absolutamente em consonância com tudo isso que tanto te irrita. No ‘Dias de Feira’ você diz que seu tempo não é hoje. Discordo. Ultimamente, o seu tempo é exatamente este, você está totalmente ambientado, pelo menos em espírito, ao ano de 2020. A disposição para esse linchamento histérico e grandiloquente de alguém que você só viu uma vez, mantendo ainda uma consciência tranquila e uma pretensa autoridade moral, é o equivalente psicológico exato do que o fast food, gourmetização e a sustentabilidade fake representam na cozinha. Cegueira moral, hipocrisia, mentira, cinismo completo e acabado.
Outro ponto a se destacar é a covardia que sempre acompanha essa ignorância sumária. Sei quem são as pessoas que você admira, suas referências em literatura, cinema, música, cozinha. É possível apontar em muitos deles comportamentos infinitamente mais ofensivos à religião politicamente correta do que esse caso do Torto. Você vai queimar os respectivos livros, quebrar os discos? Vai escrever panfletos babando de ódio como este post contra grandes nomes? O Arlindo tem um estabelecimento pequeno e recebeu você com toda a gentileza, no entanto é a ele que você se refere como ‘esse tipo de gente’, é pra ele que você reserva votos de ‘que morra e apodreça’. Que merda é essa? Atitude de moleque, de zé ruela, de verme. Essa desproporção absurda da sua reação e a desfaçatez absoluta com que você ainda tem a pachorra de mencionar ética, decência, ‘pessoas melhores’ fazem desse texto uma das coisas mais nojentas e tristes que já li. Destaque especial para a ideia infinitamente cretina de que se ele batizou o bar em homenagem a Garrincha, não há como o cara ser legal. Afinal, o Garrincha batia na Elza Soares. Isso é tão idiota que não há como explicar. Puta que pariu, peço que você releia esse trecho do texto em voz alta e confirme consigo mesmo se é isso mesmo que você acha. Se você não mudou de ideia, não há mesmo o que possa ser feito pela sua inteligência e consciência.
Pela maneira como aconteceu, a situação calou fundo no baixo ventre da esquerda cirandeira, mas não se engane: esse texto é algo que poderia vir da cloaca de qualquer político do PSL, se os envolvidos na situação se ajustassem à narrativa respectiva. Não há diferença. Você, com o dedinho apontado, imagina ter uma superioridade moral que simplesmente não tem.
Enfim, não o conheço pessoalmente nem virtualmente, mas a sensibilidade exigida para escrever livros com a qualidade dos seus naturalmente dá margem a imaginar uma persona totalmente incompatível com o que você está fazendo agora, o que significa que você não é isso aí que eu li, que está se deixando levar pelo tempo e pela circunstância. Prefiro acreditar nisso e continuar acompanhando o que você tem de bom, apesar de esse post dar muito mais razão para eu passar a ter aversão a você do que a razão que você teve ao escrever esse negócio deplorável.
9 de February de 2020 — 00:10
Nancy says:
É sério que tu escreveu o dobro do que o JB só para justificar um agressor? Isso sim é fanatismo, eu hein.
11 de February de 2020 — 14:19
Leonardo says:
Saudades do saudoso: “comente, mas se atente”
13 de February de 2020 — 16:28
João says:
O amigo aqui defendendo o dono do bar como uma mulher defende seu homem, sei não, hein? Sai pra lá boyzebu! Se o cara bateu na mulher tem que assumir. Também sou contra essa porra de politicamente correto, mas fazer um arrazoado para defender o carinha do bar também é over. O JB as vezes tem umas atitudes escrotas mesmo, mas daí a ficar cagando regra no blog dos outros é, no mínimo, inconveniente. Como já dizia minha avó, “é muito peido para pouca merda”.
13 de February de 2020 — 20:59
Gabriel says:
Pô, e essa postagem toda aí não é no fundo uma maneira de capitalizar em cima da escrotice alheia, aproveitando a deixa para provar pra todo mundo que está “do lado bom” da História?
12 de February de 2020 — 03:33