nessa semana o lugar escolhido para celebrar discretamente os 40 invernos de uma amiga querida foi um restaurante aberto há cerca de 1 ano, no qual tinha ido apenas uma vez.

na primeira visita comi boas entradas, principal sofrível e ótimas sobremesas. pra beber, carta de vinhos bem fraca e um coquetel mais desequilibrado que a carreira do senador fernando collor de melo. mas tinha cupuaçu sour, às vezes uma cerveja legal salva a parte etílica da noite. e essa é bem legal, creia-me.

vacinado, levei minhas próprias garrafas. soube que a carta foi reformada, não a abri pra conferir. outra amiga presente escolheu um vinho que tava fresco, decente. e ainda bebi duas ou três taças de jerez, o goró deu certo.

embora não tenha arriscado o coquetel, notei que o bartender mudou. pra melhor. o atual, conhecido meu de longa data, é grande profissional, dos mais talentosos da cidade. e, embora estivesse na sintonia do vinho, me dá uma segurança danada saber que posso pedir um drink a qualquer momento e que ele sairá direito, como manda o figurino.

como estávamos em 4 afegãos e o cardápio é curto, deu pra pedi-lo quase inteiro. o que já era bom estava ainda melhor e o que não entregava evoluiu de maneira notável. destaque para o ótimo codeguim e o delicioso arroz com morcilla.

claro que é preciso ter talento pra se elevar, mas não é esse o ponto. muito menos sorte. estamos falando de trabalho sério e duro. não há segredo mágico. ressalto: trabalho.

o café apenas razoável fechou a experiência em nível decrescente. mas a equipe é inteligente o bastante para logo consertar isso. é difícil manter alto padrão de excelência o tempo todo, muito detalhe pra cuidar. e, além do mais, o café estava longe de ser ruim e bem distante do universo das malditas cápsulas.

o charco é um tapa na cara dos filhinhos de papai que mal sabem segurar uma praça na cozinha, mas zurram discurso pronto sobre fermentação espontânea e vinhos naturais na ponta da língua, mesmo sem dominar o assunto. e um soco no estômago de chefs vendidos pra indústria que envelheceram tão mal quanto josé mayer.

não considero o lugar aconchegante e não vou nem um pouco com a cara do público metido a besta que paga as contas da operação do restaurante. mas, se começar a reparar muito nisso toda hora, sairei de casa ainda menos, o que nem é de todo mal.

às vezes é preciso ter foco no prato.

e no copo.