a data comercial criada pelo pai do atual governador de são paulo mexe comigo tanto quanto o natal. ou seja, nada.
verdade seja dita, a data é um pesadelo pra quem trabalha em bares e restaurantes. estranhos casais que não tem nada a ver com a freguesia local embaçam numa mesa por horas com uma garrafa de vinho chileno, enquanto são valentim se ruboriza no fogo do inferno. transa jantar fora? saiba que o dia dos namorados não é a noite ideal pra isso. até os balcões de bar são contaminados pelos adoráveis pombinhos na data festiva em questão.
embora eu goste tanto de ficar em casa a ponto de montar um bar no próprio quarto, sempre encarei a ideia de sair pra beber solitário nessa noite enamorada como um desafio especial, já que até o boi na brasa tem fila na porta, com casais acadêmicos do chuletão.
geralmente a noitada não dá certo, mas faz parte do jogo. entre tantas derrotas, trago comigo o troféu imaginário de uma vitória, em especial.
quando morei em pinheiros, na era précoxipsterização, ia quase toda noite no meu balcão caído de coração e passei momentos memoráveis no bar com nome de personagem do mestre das crônicas.
12 de junho, os dois donos com a barriga atrás do balcão e um único cliente, esse que vos escreve. na época tinham apenas um funcionário, que estava de merecida folga.
lembro de ter enchido bem a lata, pois morria de medo de que o bar fechasse as portas e consumia tudo que podia com sede desesperadora.
felizmente o bar caiu no gosto de muitos pouco tempo depois. a luz nunca mais foi a mesma e não dá mais pra escutar o ótimo som ambiente. mas o mais importante é que se manteve aberto e ainda criou novo clássico na coquetelaria brasileira, um drinque com base de cachaça e fernet branca.
sempre busquei ter cuidado e delicadeza pra não divulgar lugares pequenos, a ponto deles bombarem e se descaracterizarem por completo, especialmente os singelos restaurantes étnicos e familiares. mas tem o outro lado também. de que adianta o bar estar agradavelmente vazio se o movimento ínfimo causará sua falência? é preciso equilíbrio e paz de espírito pra achar o movimento de escrita sobre os lugares favoritos.
esse dia dos namorados será diferente, com casais enclausurados em suas casas face a face, sem distrações, nem filas. se houver algum sentimento nobre envolvido, pode até ser deveras agradável. minha sugestão é que se cozinhe, mas o que não falta são pacotes com opções possíveis em bares e restaurantes pra noite não ser muito bosta. escolha a sua e, na medida do possível, seja feliz ao lado da pessoa que tem a santa paciência de te suportar nessa quarentena.
eu passarei no balcão particular que fiz para chamar de meu. tô com umas garrafas boas aqui, talvez até cozinhe. sozinho, porque o sujeito que pode respeitar a quarentena e não o faz não passa de cabra safado, coisa que não sou.
além do mais, como já disse, não ligo muito pra essas datas.
Edgar says:
Quão invejável é a sua solitude.
3 de June de 2020 — 16:48
Fernando says:
Há alguns anos morando fora de São Paulo não ia ao Boca de Ouro e fui justamente no começo de março, estava lotado, nada haver com aquele começo, mais civilizado, mas com certeza pagando as contas, o que é necessário. E coincidemente começaram recentemente o delivery, inclusive com o drink de cachaça e fernet.
4 de June de 2020 — 13:42
Harlan Rodrigo says:
Ah, o melhor bar que já fui na vida, sem dúvida. Tem muitos elementos que eu gosto. Sou de Salvador e não existe bar assim aqui. A cultura local é totalmente diferente da de SP, inclusive de bares e mais ainda de bares de coquetéis. O bolovo é incrível. Faço meu Macunaíma com Brasilberg, que é o que tem pra hoje, e fica bem bom tb, mas o original é realmente algo incrível.
O Macunaíma e o Tacachaça, criado por Kennedy pro restaurante de Thiago Castanho, são dois incríveis coquetéis e ambos com cachaça.
18 de June de 2020 — 13:49