não sou assim o que podemos chamar de apreciador de comida delivery. e acho que jamais serei, mesmo morando sozinho e sendo meio preguiçoso. a maior parte dos rangos não foi pensado pra viajar.
a pizza, por exemplo. não tem sentido algum tampá-la com papelão assim que ela sai do forno e levá-la pro rolê em seguida. é inevitável que até as ditas boas cheguem em estado deplorável na sua casa. na melhor das hipóteses, é outro produto. mas usar eufemismos como esse pode ser uma perigosa maneira de eliminar o raciocínio crítico.
existe solução, alternativa ou coisa que o valha?
pra mim, é simples. pastas árabes frias para noites quentes e esfihas fechadas para as noites frias. o líbano salva, armênia e síria também, entre tantos outros. viva a imigração!
claro que manter a geladeira com o mínimo de ingredientes de sobrevivência ajuda um bocado, mas não é disso que estou falando. escrevo aqui sobre o conforto de receber uma comida pronta na sua casa.
e ontem, noite chuvosa dominical, me peguei com uma preguiça danada de cozinhar e muito mais de sair de casa.
não sei se tem algo a ver com a doença degenerativa da qual sou portador, mas tenho andado ainda mais saudosista que de costume. e me lembrei de uma adolescência lapeana na qual a tal da pizza delivery foi peça fundamental de guerrilha.
daí pedi uma de boa calabresa com queijo aceitável. gorjeta de 20 conto pra compensar a viagem do entregador que veio debaixo de chuva torrencial. ainda desci pra pegar a encomenda com uma garrafa de serra das almas que eu estava disposto a presenteá-lo e perguntei com jeitinho se ele bebia, mas me respondeu que não, por causa da igreja, coisa e tal. nem tentei o convencer do contrário, não é a primeira vez que perco pra jc.
ao abrir o papelão umedecido, logo contemplei aquele disco morno e molenga. exatamente o que queria. apesar do alto preço cobrado, o delivery da braz não se deu ao trabalho nem de fazer a marca do corte, o que rendeu um trampinho inesperado, especialmente porque não uso talheres pra comer pizza. mas tá limpo, a coroei com generosas doses do azeite em lata que guardo escondido na despensa e mandei tudo pra dentro como deve ser. tarefa cumprida.
você sai da lapa, mas a lapa não sai de você.
em gastronomia a única coisa contra a qual é impossível argumentar é sua relação afetiva com comida. nunca deixe ninguém te tirar isso.
Júlia says:
Por não saber cozinhar, o delivery (ou telentrega, pois sou gaúcha que mora em SP) sempre me salva. Uma descoberta incrível, que acabei de pedir nessa segunda pós-dilúvio: capelete em brodo d’O Gato que Ri! Chega sem virar nada! E antes que falem mal: “em gastronomia a única coisa contra a qual é impossível argumentar é sua relação afetiva com comida. nunca deixe ninguém te tirar isso”.
10 de February de 2020 — 21:02
WBSF says:
Ifood não gostou do seu texto.
10 de February de 2020 — 21:18
Paula Vadão says:
Jb, o entregador de pizza achou que você queria comer ele kkkkkkkkkkk
10 de February de 2020 — 23:46
Carlos Pêra says:
Pizza delivery é guerrilha! Fun fact: hoje em dia, na Praça Pôr do Sol, vê-se rapazes com suas indefectíveis mochilas “térmicas” vendendo pizzas a preços irrisórios para jovens lariquentos.
11 de February de 2020 — 09:24
Miguel says:
Curiosamente meu pai também admitia pizza delivery, pra ele não tinha graça comer pizza molenga e fria. Claro que quando cresci pude eu mesmo me frustrar com a bagaça. Hoje chamo uma do lado de casa, que também tem uma “Castelões” no menu, chega bem quente.
11 de February de 2020 — 11:10
Miguel says:
*Não admitia
11 de February de 2020 — 11:11
Mauricio says:
Jota Bê, Ifood, Rappi, etc. Quando vamos enfrentar esses caras? Comem as margens dos restaurantes e criam condições infernais de trabalho aos entregadores, que sentam nas ruas amontoados em frente aos estabelecimentos na espera da próxima entrega. Fazem desafios de máximo de entregas no mínimo tempo. Jogo de vídeo game na vida real. Com a diferença que no game over o cara morre mesmo. 1 motoboy morre por dia na cidade de sp e a taxa de moto entregadores só aumenta.
11 de February de 2020 — 11:22
Jair Guedes says:
compra uma passagem para cuba ou venzuela. la não tem delivery, porque o entregador morreu de fome. boa viagem.
13 de February de 2020 — 14:02
jb says:
como é ser burro desse jeito?
13 de February de 2020 — 15:55
Jair Guedes says:
é verdade. atacar a livre iniciativa desse jeito só pode ser coisa de ser irracional, que não aprende e sempre vê um moinho de vento imaginário para enfrentar. agora são os tais aplicativos. eu prefiro continuar no padronizado e organizado dispositivo do que enfrentar na sorte um atendente de telefone que pode não ter paciência, nem tempo, nem disposição para me ajudar no pedido. ah, sem tempo para esses esquerdinhas criados na sala da avó, focados na destruição dos meios de produção, sem atinar que o resto vai junto, e nem morrito e nem habanos sabemos fazer para depois exportar. muito burro.
14 de February de 2020 — 10:49
thiago says:
Jotabê, uma observação e uma dica. Prefiro que não marquem o corte da pizza mesm, quando peço, porque o molho e o queijo acabam encontrando o caminho e aí a decepção é maior. a dica: aqueça bem uma frigideira, pinga um fio de azeite nela e põe a fatia de pizza, da 1 min de relógio e ela melhora.. não salva, mas melhora.
11 de February de 2020 — 17:14
Fernando says:
Belo texto. E é por causa do afeto, construído quem sabe em uma biografia inteira, que não se pode chamar de trouxa, por exemplo, quem gosta de um lugar que tecnicamente pode ser questionável.
12 de February de 2020 — 19:29