não sei por onde andam os chefs que adoram desfilar pelos salões de seus restaurantes, mas fato é que boa parte dos comensais voltaram ou até mesmo começaram a cozinhar em suas próprias casas.
porém, dependendo das circunstâncias, o delivery se faz necessário. pode ser por preguiça de lavar a louça, pela mera vontade de ajudar o pequeno comércio local que tenta se manter aberto no meio da quarentena ou por qualquer outra motivação.
ontem à noite, através do aplicativo zoom, participei com amigos de uma celebração à vida e obra de aldir blanc. foi entre vários goles, no meio do justo tributo, que um dos nossos soltou que um famoso botequim carioca – de passado suspeito, embora há quem diga que até teve noites de glórias, antes de virar rede – deixou de entregar empadas, mas segue com delivery de outros produtos.
acontece que o ato de não entregar empadas é de uma estupidez sem precedentes na famigerada saga da comida pra viagem, especialmente quando já se tem o serviço de delivery, oferecendo outros produtos que decerto nem chegam tão bem no aconchego do lar, doce bar.
explico.
além da empada ser patrimônio imaterial do botequim carioca há comidas que viajam bem, outras que sofrem um bocado e, por fim, há o rango que melhora com a viagem, assim como alguns vinhos com o tempo.
por ser fechada, a empada não murcha como, por exemplo, a pizza, essa poderosa inimiga da comida tropeira.
outra coisa. já tentou comer uma empada quentinha, assim que sai do forno? se sim, bem sabe que ela queima a língua. todo mundo que frequenta botequim e gosta do salgado em questão já pagou o mico de dar a primeira mordida para em seguida soprar infantilmente o recheio com a esperança dele esfriar um pouco, enquanto o céu da boca tá pelando. e geralmente o sopro não alivia muito, na real o salgado só chega na temperatura ideal próximo da última mordida, quando o sabor da derrota já está escancarado nos seus olhos.
agora, se a empada é empacotada com o devido profissionalismo assim que sai do forno e parte rumo à sua casa para chegar em menos de 30 minutos, ela chegará no auge de sua forma, implorando pra ser comida. eis aqui um salgado que gosta de viagens médias e não foi feito à toa.
o sujeito que não transa queimar a boca ao morder uma empada não quer guerra com ninguém.
claro que há também a empada de estufa, aquela que tem a paciência budista de saber esperar pela hora certa do boêmio de balcão de botequim ficar faminto, para finalmente ser devorada. mas isso é uma história que só voltaremos a viver se o mundo voltar a ser algo próximo do que era.
Vinícius Becker says:
Meus Sentimentos pelo Aldir Blanc, Senhor Júlio Bernardo.
5 de May de 2020 — 13:28
Leo Boechat says:
muito bom!
5 de May de 2020 — 14:55
paulo says:
muito bom texto.
acredito que os chefs que adoram desfilar pelos salões estão adorando desfilar pelas passarelas digitais – e gozando muito dos flashes dos quarentiners instagramers.
6 de May de 2020 — 12:08
Andre says:
Bons tempos do Rancho da Empada! Funcionava numa Kombi estacionada em um sobrado da Sena Madureira. Era a melhor empadinha de SP!
8 de May de 2020 — 23:55