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Boteco do JB

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gritos na solidão

o que mais me interessa num livro meu é a obsessão pela produção do próprio, antes até dele começar a ser escrito. é como se me mudasse pra aquele mundo por uns tempos. depois o largo cafajestamente, nem o lendo mais. o importante é o processo. quando ele acaba, não tenho mais o que fazer, meu papel já foi cumprido. não à toa, quase sempre sou péssimo entrevistado, sempre com a cabeça no próximo projeto. ou na lua, se assim preferir.

isso posto, tenho a impressão de que já contei em algum deles a história de uma garota que foi embora daqui de casa no meio da noite, talvez tenha escrito em forma de carta no livro que publiquei com edu goldenberg, que tem alguns dos meus textos preferidos, embora tenha sido um estrondoso fracasso de vendas.

na real essa coisa delas irem embora no meio da noite já aconteceu mais de uma vez. é que, como disse nas duas postagens anteriores, tenho o péssimo hábito de gritar à noite.

não é por querer, não. nem pra fazer graça ou algo do tipo. se pudesse escolher, não faria isso. sei que já sou desagradável o suficiente e do quão é desnecessário esse bônus.

assustar as pessoas não é legal, não sou entusiasta dessa atividade desde o castelo mal assombrado do playcenter. monga? achava um saco. dizem que a versão paulistana era interpretada pela vó da sandy, nunca levei tal investigação a fundo, mas sempre tive curiosidade em checar. alguém pode perguntar pra ela?

JÚLIO! NÃO DÁ! É MUITA PAULEIRA DORMIR COM VOCÊ! EU VOU É EMBORA! – apenas um dos desabafos ouvidos por mim de ex-companheiras no decorrer dessas madrugadas ébrias e em alto volume.

e tudo bem. quem tem que se acostumar com a situação sou eu, jamais elas. chega de decepcionar as pessoas.

o grande companheiro da minha quarentena é um pug chamado petisco. fazemos concurso de ronco durante as madrugadas e ele não se incomoda com os gritos. às vezes me acompanha num ou outro arrastar de correntes pelo apartamento, outro hábito antigo e desprezível. cachorro chinês com paciência budista, o mano.

pra quando a quarentena passar, pelo menos essa rotina deve seguir. dias de quietude, noites de gritaria.

ou, parafraseando totalmente fora de contexto fausto fawcett, cachorrada doentia.

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