claro que todos queremos comida de boa procedência e que não seja ultraprocessada. quem se opõe a isso é ignorante ou tem algum interesse envolvido, o que é muito pior.
mas infelizmente ninguém está mais interessado no cenário que a indústria alimentícia. pra entender a trajetória da evolução dos hábitos alimentares basta seguir o caminho do dinheiro.
tem que parar com essa história de que comida saudável no brasil é privilégio de poucos.
se procurar por um mero potinho de iogurte em qualquer gôndola de supermercado se prepare pra um trilhão de informações sobre lactoses e porcentagens que passam a milhas de distância do produto básico que você queria, mas dificilmente estará à disposição. quer dizer, no mínimo te dará um trampo pra achar o danado. a indústria não facilita, apenas te cobra mais e mais e cada vez mais.
país de primeiro mundo é aquele no qual a boa mesa está ao alcance de todos, o que tá longe de ocorrer por essas bandas onde é tão difícil se informar.
e onde não há informação, há confusão.
quando a militância cirandeira fala em comida de verdade ela tá falando consigo mesma, não com o grosso da população, que se ouvir isso, vai rir, pedir licença e descongelar no micro-ondas aquela bandeja de lasanha da sadia que é o que tem pra hoje e inclusive o chef recomendou na televisão.
tal atitude me remete a quem ainda insiste na expressão cerveja de verdade, como se o mar de botequins espalhados nesse pobre país de dimensão continental tivesse acesso a isso. me dê minha brahma logo e me deixe em paz, assim responderá o trabalhador se um barbudo de coque lhe oferecer uma ipa.
enquanto não entendermos que comunicação não é o que se fala, mas sim o que se ouve, a indústria alimentícia seguirá cagando na cabeça de gente bem intencionada, porém ingênua.
e hoje, mais que nunca, não é hora de ser ingênuo. cuidado! há um genocida na porta principal!
então, na próxima vez que você pensar em apresentar algo legal a alguém, certifique-se antes se sua linguagem o aproximará ou o afastará dos bons hábitos. até porque, pior das hipóteses, ele pode ficar com raiva tanto de você quanto daquela bonita batata doce roxa que não tem nada a ver com isso.
porque a vida é aquilo que ocorre fora da ecobag exposta no ombro do militante de facebook naquela feirinha orgânica tão distante de barueri.
Flauber Gusmão says:
Excelente leitura…
12 de October de 2020 — 15:16
Fernando Corrêa says:
Jota, admiro muito os seus conteúdos, mas achei essa implicância com o termo meio boba.
Primeiro que “cerveja de verdade” é bem diferente de “comida de verdade”. Os dois vão virar argumentos pra te vender alguma coisa? é verdade, mas com isso a gente nem precisa se preocupar: no capitalismo é assim com tudo. É coisa de playboy? é verdade, mas tem uma diferença fundamental: o que se convencionou chamar de “comida de verdade” mata menos, “cerveja de verdade” é só cerveja mesmo.
Segundo que no Brasil todo mundo é ignorante, tanto quem tem dinheiro quanto quem não tem. É um país em que a educação é uma merda, se você paga 5, 10, 20 paus ou se não paga nada. Falar de “comida de verdade” atraí os cirandeiros pra comer melhor? Que ótimo, porque em caso contrário eles iam cair no hype do hamburguer de planta. Se eles estiverem falando pra eles mesmos já está ótimo. Menos gente ignorante se matando e enchendo (mais) o bolso da Nestlé.
Terceiro que eu sinceramente não sei qual é a alternativa a falar de “comida de verdade”. Entendo que o tio barrigudo que trabalha 12 horas por dia e toma brahma com salsicha pra relaxar não vai querer ouvir nada do coque-saia, nem que ele deveria emagrecer, nem que ele deveria comer “comida de verdade” e nem mesmo que o céu é azul, se bobear. Não tem papo nenhum e é isso. A culpa é do coque-saia, da “comida de verdade” ou do céu azul?
Acho que você tá bem afim de jogar pedra na loja do coque-saia e a vidraça da vez foi a da comida de verdade. Sei que não faltam motivos pra pedrada, mas você poderia ter escolhido melhor a vidraça.
12 de October de 2020 — 17:33
Gabriel Takano says:
Linda reflexão, Julio. Sou músico e vejo que a classe dos artistas está acabada, vendida para um mercado doentio que engoliu toda produção de qualidade. O acesso a mercadorias de qualidade se restringe a uma elite ignorante e que muitas vezes vai gostar até de lasanha da sadia assinada por chef famoso, por exemplo.
9 de January de 2021 — 20:28