madrugada de hoje, no intervalo do clássico arrastar de correntes, peguei uma cerveja e me sentei na varanda. pensei vagamente que o tempo cada vez mais fresco e menos poluído mostra que talvez tenhamos ido longe demais.
avistei na esquina da general jardim com a araújo uma prostituta discutindo rudemente com um traficante calçado com um par de sapato branco que combinava com seu jaquetão da mesma cor, vestido por cima de uma camisa vermelha, a calça era branca também. sei do seu ofício porque já me ofereceu drogas na frente da love story, ele. como era de se esperar, trocaram alguns elogios vitorianos e tudo certo. tive a paciência de ver até o final, pra confirmar que a chamada para a polícia não seria necessária. e não foi, é na rua que algumas pessoas se entendem.
essas que, por sua vez, se alguém mandar algo parecido com um fica em casa, mandarão o autor da sugestão à merda. muitas não tem pra onde ir e, se tem, trata-se de ambiente tão inóspito que acham preferível morrer na rua.
tenho o privilégio de morar (muito bem) na parte do centro hoje considerada como nova, graças a revitalização comercial do pedaço. mas pro lado da boca do lixo, onde profissionais do sexo seguem vendendo seus corpos por 30 coronas, o bicho continua pegando. aliás, nunca pegou tanto.
pra quem não sabe, a boca do lixo é o pedaço nos arredores da rio branco, onde cineastas brasileiros se consagraram nos anos 60/70. com a decadência da cena artística, chegaram puteirinhos populares, nada chique. quem queria algum glamour, tinha que ir na boca do luxo, em torno da nestor pestana, onde ficava a kilt, um lindo castelinho que o prefeito gilberto kassab derrubou aparentemente por puro moralismo bosta, já que até hoje não tem nada no lugar.
fato é que em ambas as bocas ainda existem casas de tolerância. a maior parte da já não tão nova geração não traz nenhum resquício do romantismo envolvido no milênio passado. mas segue lá, sobrevivendo bravamente num estado teocrático que não dá a mínima condição de trabalho para o negócio mais antigo da humanidade. detalhe. sabe o que tem entre as duas bocas? nada menos que uma enorme crackolândia a céu aberto.
que tem que ficar em casa os teoricamente bem informados já deveriam saber. a hora agora seria a de informar e dar assistência aos menos favorecidos. de transformar a infinidade de igrejas de pastores milionários em abrigos provisórios para profissionais da noite e adictos químicos.
mas, não. em vez disso, o criminoso que ocupa o planalto acha bacana instituir uma espécie de jejum religioso que vai do nada a lugar nenhum. queria mais é que ele se deslocasse até a estação da luz pra explicar o ato pra quem pratica jejum involuntário há tanto tempo.
todos vamos pagar pelas irresponsabilidades desse lunático. mas a conta sempre chega mais alta pra quem já não tem porra nenhuma.
será preciso esperar acumular uma pilha de cadáveres na duque de caxias para depor esse canalha?
guilherme says:
elas tem todo o direiro de mandar a merda quem as sugere ficar em casa
5 de April de 2020 — 14:43
Aldo Augusto Finotti says:
Mandou a real dominical, na lata. Parabéns!
5 de April de 2020 — 16:17
Guto says:
Ahhh, que saudade da Kilt. Grandes festas e histórias. Quanto ao mais, como diz o Conselheiro Acácio, “as consequências vem depois”. Elas virão.
5 de April de 2020 — 18:24
Mauricio Rezende Habert says:
Boa JB. E digo mais: além de fornecer moradia provisória é preciso distribuir mais lavatórios públicos pela cidade, com água, sabão e álcool gel. Sei que no centro a sabesp colocou 10 desses, mas ainda é pouco pra sp.
Como o pessoal vai lavar a mão se não tem acesso a água tratada em boa parte dos lugares?
Esse foi o tema do texto do meu blog hoje: É hora de discutir saneamento!
5 de April de 2020 — 21:12
Bragança says:
JB, impeachment ou renúncia, por ora, é fora de cogitação. Isso geraria extrema instabilidade e insegurança democrática. Anta ou não, esse idiota foi eleito pelo povo, e assim funciona a democracia representativa. Inobstante, o ideal, a meu ver, seria fazer tal qual foi feito com Dilma – injustamente golpeada: deixar sangrar até ficar bem fraco. É dizer, o momento oportuno para sua deposição será quando todo o congresso virar oposição, coisa que não é impensável dado a lastimante atuação de bozo e família. Um abraço!
5 de April de 2020 — 23:00
Cássio de Oliveira Almeida says:
Aplausos…
5 de April de 2020 — 23:35
mauricio shirakawa says:
JB, se não me engano o pretexto pra demolição do castelinho da Kilt foi a construção de um retorno pros carros que vem da Martins Fontes poderem acessar o estacionamento da praça Rosevelt. Esse retorno tá lá, deixando mais melancólica a fachada do Cultura Artística. Lembra-me daquele quadro de programa de auditório no qual trancam alguém numa cabine à prova de som e fazem perguntas do tipo : Você troca esse castelinho pra um retorno que é praticamente inútil?? e o sujeito lá dentro : Siiiiiiiiiiim
10 de April de 2020 — 19:25