não gosto muito do termo guilty pleasure, por remeter ao catolicismo, religião que abomino.
mas não sejamos chatos pra caralho. então, me diga. qual o seu desejo gastronômico mais secreto? aquele que vem na cabeça enquanto você procura por cenouras rainbow no instituto feira livre e não conta nem pra sua própria sombra?
ok, entendo que seja mais justo começar por mim mesmo. felizmente me expor nunca foi problema, por mais caro que seja o preço a pagar por tal atitude.
a real é que sou adicto de eskibon desde a infância, o que deve cassar meu alvará pra falar mal da bacio di latte, da qual inclusive sou freguês do sorvete de pistache. claro que seguirei escrevendo o que bem entendo, independente da portaria de cancelamento do dia.
porque em gastronomia a única coisa que não se combate é a lembrança afetiva. se a pessoa prefere o pudim cheio de furinhos da avó a um perfeito não há o que discutir.
e eu ficava feliz pra dedéu quando sobrava algum pra comprar o eskibon da caixinha em vez do sem graça picolé de frutas. inclusive cheguei a vender sacolés pra molecada da vizinhança da vila leopoldina pra bancar o vício. meus olhos brilhavam tanto diante do objeto de desejo que o primeiro entreposto frigorífico do meu saudoso pai foi batizado por ele com o infame nome de kiboi.
não me lembro ao certo a data de aposentadoria da caixinha, mas fiquei bem emputecido quando ela foi trocada na calada da noite pela embalagem molenga. acho que a única substituição mais odiável foi quando o professor de educação física carlos alberto parreira sacou raí e colou em seu lugar mazinho, para ganhar a mais feia das copas. preferiria que perdêssemos bonito, o jogo deve ser jogado.
hoje moro próximo à praça da república e foi num mercadinho na nestor pestana que descobri a existência do eskibon aperitivo, 16 pequenos cubos de gordura hidrogenada armazenados numa caixinha de papelão que até lembra, mesmo que de longe, a clássica embalagem que fez minha cabeça nos idos dos anos 80.
por aqui a palhaçada começou quando o velho portuga começou a dividir o minúsculo espaço destinado ao eskibon com a versão do insuportavelmente doce chicabon aperitivo. claro que a estrela do refrigerador horizontal acabava antes, pro meu completo desgosto.
nessa semana houve outra ocorrência digna de nota. no lugar do duelo eskibon x chicabon, um juvenil magnum aperitivo ocupava o fundo do freezer, todo oferecido e coloridinho. não há limites para a humilhação e o poço nunca tem fim.
nem o sorvete de pistache posso mais, já que a sorveteria citada, em função da quarentena, no momento não aceita dinheiro e eu não tenho cartões de crébito.
gosto bastante de apenas uma sorveteria na cidade, mas aí já é outra divisão, não tem nada a ver com lembrança afetiva. até tentei pedir dia desses, mas deu pau no sistema, problema comum nos novos tempos. não insisti por não me sentir à vontade com esses aplicativos felasdaputa, sobre os quais já escrevi aqui nesse balcão virtual. inclusive, antes que me perguntem, apóio a iniciativa da paralisação de ontem e torço para que as justas reivindicações sejam atendidas. aliás, pediram foi é pouco. que venham mais protestos e que sejam efetivos.
agora, com vossa licença, me retiro pra chupar o dedo. é o que tem pra hoje.
Cássio de Oliveira Almeida says:
A minha lembrança afetiva é com o tablito, é o meu favorito.
2 de July de 2020 — 13:49
Giba says:
O meu é o lolló
2 de July de 2020 — 19:37
Maria says:
Você faria um dia, no canal, o eskibon caseiro da casa?
2 de July de 2020 — 19:46
Elisangela says:
Você me lembrou do furo bolo. ‘”O picolé de lamber os dedos”.
2 de July de 2020 — 20:07
André Hartel says:
Sorvete de mangaba na Frisabor, no Recife. Bom demais!!
2 de July de 2020 — 21:58
Chico says:
Pela volta do eskibon crocante (que vinha na caixinha vermelha),do rocambole Pullman de goiaba (que vinha com a faquinha ) e da geleia de mocotó Colombo.Esse era o kit ideal para assistir o desenho dos Impossíveis e a série “ O Homem de Seis Milhões de Dólares” na rede bandeirantes nos idos de 1978.
2 de July de 2020 — 23:06
Nando says:
Será que vc teria conhecido a Casa Whiskie, no centro? E a Gelateria Italia, no Sumaré?
2 de July de 2020 — 23:34
Ivan says:
Já tinha ouvido esse teu relato. Passei a comprar mais de uma caixinha, sem culpa. Obrigado por mais essa.
3 de July de 2020 — 00:34
Caipira says:
Memória afetiva acrescida de culpa instantânea: pringles.
3 de July de 2020 — 07:46
André Bussade says:
O meu eram uns pirulitos vermelhos com açúcar que relançaram em saquinhos individuais.
Lembro muito pq meu pai pedia para comprar 2-3 cigarros Continental na mercearia na tentativa de parar de fumar e ganhava um desses.
5 de July de 2020 — 00:24
lino ramos says:
Minha memória afetiva é o idefectível chicabon, mas a lembrança da embalagem azul do eskibon escancarou um carrosel de emoções por aqui.
5 de July de 2020 — 20:51
Fernanda Nóbrega says:
Uhmm, vou pedir um Colegial de sobremesa.
6 de July de 2020 — 00:12
Marcus says:
Pizza de catupiry, o odiado pelo JB. Mas o legítimo. Desde criança. Pudesse, comeria todo dia.
23 de July de 2020 — 21:03
Vander Souza says:
JB me explica como viver sem cartão de crébito. Quero entender esse modus operandi disruptivo e criativo. Parabéns pelo trabalho e long live rock and roll.
26 de July de 2020 — 07:16
Gabriel says:
Minha memória afetiva é corneto
27 de July de 2020 — 15:19
Marília says:
Cornetto Chocomix. PQP…
8 de September de 2020 — 11:18