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Boteco do JB

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a conversa dos outros

sair quase sempre sozinho e dar pouca atenção ao aparelho telefônico móvel faz com que se aumente a sensibilidade em relação ao que ocorre em minha volta, o que ajuda bastante a cumprir o compromisso diário de atualizar o blog. esse que por sua vez já se transformou em diário, mais como aqueles de antigamente que os que se vê toda hora em outras mídias eletrônicas. aqui a pressa é menor, pelo menos um pouco.

daí que, por conta de alguns trabalhos, às vezes tenho que tirar a poeira do passaporte e ir ao itaim bibi, lugar que já foi a chácara do seo leopoldo e hoje pertence a um curioso tipo de condado coxipster.

universo tão distante do meu que até que me divirto – e aprendo – um bocado ouvindo as conversas dos outros nas ruas e nas mesas dos restaurantes.

costumo almoçar numa das casas de um jovem chef italiano que vem se tornando uma espécie de walter mancini do pedaço, tamanha a quantidade de comedouros abertos dentro de tão pouco espaço.

a comida servida na casa mãe não me agrada tanto, acho meio pesada, mas entrega o que se propõe a fazer, parece feita sob encomenda para faria limers. as leves e felizes expressões de felicidade plena estampadas em seus rostos coringa não me deixam mentir.

já nas outras casas o nível sobe, o que é ótimo, demonstra evolução no bom sentido da coisa. o chef em questão não adormeceu dentro de um barril de manteiga.

um dos bons jantares que tive no ano passado foi na sua casa de frutos do mar. aceitei seu convite, sentei com uma amiga no balcão que aporta na boqueta da cozinha e juntos mandamos menu exclusivo. programa que recomendo fortemente, se você tiver condições pra isso.

mas fiquei curioso pra saber como o restaurante funcionava para os pobres mortais. então foi um pulôver nas costas, uma ideia faria limer mode on na cabeça e certa sensação de fome na pança.

começo da semana, período de almoço. sentados ao meu lado, dois executivos. um morador da vila olímpia e outro do recife, hospedado no centro e trabalhando no condado.

o anfitrião passou o tempo todo explicando porque o outro teria que se mudar para o condado – nunca pensei que ouviria essa expressão sem o uso de ironia e só isso já valeu o rolê – e descrevia as experiências possíveis com uma empolgação que eu não conseguiria reproduzir nas minhas parcas letras, até porque ouvi gírias até então inéditas para meus ouvidos. mas a coisa começava com um café da manhã topezêra, passava por um startup e terminava com diversões noturnas onde o adultério é inevitável. tudo com muita segurança, já que o centro onde ele está – ou estava – hospedado é perigosíssimo. além de 2 onipresentes coca-cola com gelo e limão, não reparei no restante dos seus pedidos.

eu fui de boa burrata com uni – que poderia estar mais inteiriço – como entrada e gostoso rigatoni com lula, botarga e brócolis de principal. a sobremesa era uma instalação de chocolate mais duro que denso. e o café tava tão intragável que não o bebi. rodolfo se comporta como um chef à moda antiga, foca no principal e dá pouca atenção ao que deve considerar meros detalhes, tais como vinhos – ele amarra as mãos do sommellier, ao fechar exclusividade com UMA importadora – , café – de cápsula ou mal tirado, dependendo da casa. a única certeza é a da derrota – , cocktails – tem o que vende e pouco importa o restante. mesmo o que vende não tem bom aspecto – e sobremesas, que até podem ser boas, mas sempre é uma loteria. comercialmente funciona, o chef oferece o que seu público quer e seus comércios bombam. embora esse argumento parece ter saído da boca do dono do paris 6, ao contrário de isaac, as casas nino oferecem produto no mínimo aceitável, com picos de boa qualidade.

o ponto é o seguinte? por que muitos clientes consomem algumas coisas? por vontade própria ou ignorância?

porque eu acho cômodo pra cacete responsabilizar seu público por suas próprias falhas. faz parte do nosso trabalho a boa educação do comensal. o arbítrio é livre, assim como a informação. colonização às avessas.

chefs, saiam da zona de conforto!

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