dediquei mais de um ano ao trabalho de produção do livro de hoje não passa, no qual troco cartas com o amigo eduardo goldenberg, grande boêmio tijucano e vascaíno nas horas vagas.
alguns dos meus melhores textos estão lá e edu mandou muito bem. além disso teve prefácio do mário bortolotto, apresentação do forasta, produção gráfica impecável, boas ilustrações, tudo muito certo.
não sei se foi pela aposta no tema tão fora de moda ou, mais provável, pela pouca popularidade dos autores envolvidos, mas fato é que o livro – lançado em 3 capitais – não decolou nas vendas.
mas, se pudesse voltar atrás, faria tudo de maneira absolutamente igual, tenho muito orgulho desse trampo e creio que o outro autor compartilha da mesma opinião. pra mim, o que importa sempre é o processo, e o de produção desse livro foi das coisas mais prazerosas que já fiz na vida.
inclusive penso na possibilidade de um segundo volume, até já falei com edu e ele foi simpático à ideia. creio que venderá menos ainda, mas não me importo com isso. o chão é o limite e da sarjeta não passa.
além de ser atropelado – ponto alto do livro – edu também aniversariou durante a troca de cartas. claro que fui prestigiá-lo, pois além de passar a data ao lado do amigo também caçaria assunto para a publicação.
sou noturno e jamais me adaptarei à boêmia matinal carioca, que abre a primeira cerveja gelada após o último copo de café preto, por volta das 10h. eis aí um hábito que me derruba, por mais que tente me encaixar aos costumes locais nas viagens em que sempre serei o estrangeiro.
o aniversário de 49 anos de eduardo braga goldenberg foi celebrado no histórico bar brasil, localizado nos escombros da mem de sá, naquele pedaço da lapa carioca com passado glorioso, presente detestável e futuro incerto.
importante ressaltar que o bar em questão manteve a dignidade e vale a visita. e a comemoração ocorreu em horário crepuscular, o que de quebra impossibilitou minha siesta, o que só aumentou o sono, já que estava bebendo desde cedo.
entrei, cumprimentei o amigo, me sentei numa mesa mais distante e dormi profundamente. lembro de por um momento ter usado o bebê de uma amiga como travesseiro e que ela o tirou do meu colo com a maior delicadeza possível.
acordei revigorado, mas a maior parte dos convidados já tinha ido embora. o que foi bom, sempre preferirei lugares com menos gente.
fato é que o bar brasil é um excelente bar para dormir, em especial nas mesas mais distantes do barulhento balcão, indico muito pra quando voltarmos a algo parecido com o que chamávamos de mundo.
acordei, escrevi esse texto e agora voltarei pra cama, pra tentar dormir mais um pouco, mal preguei o olho nessa madrugada. não sei como você está, mas meu sono vai de mal a pior.
Danilo says:
Muito legal.
Uma vez fui ao Bar Brasil e tinha um senhor dormindo em uma das mesas. Acordou depois de mais de uma hora e voltou a pedir chopp.
Sensacional.
Deve ser bom mesmo!!!
Abraço e continue escrevendo…
24 de June de 2020 — 12:59
André Bussade says:
Envolto pelas infelicidades da vida (ainda não ódio, por enquanto), achei todos seus livros na Amazon, inclusive esse.
Primeiro vou no etílico direto, tô precisando. Depois este que citou, curioso com carioca e paulista boêmios.
Eu sou uma bagunça. Nasci em Juiz de Fora mas as férias eram no Rio / Niterói ou Itaperuna / Cambuci, onde moravam meus avós.
Fui me formar em Ribeirão Preto, depois morei 3 anos em SP capital. 2 locais que aproveitei pouco por desconhecimento e histórico de fudido.
Agora, 13 anos no Mato Grosso, posso fazer algo bom e só tem pescaria (Detesto) e churrasco (alguns até bons). Resta carreira solo, aprender uns drinks. Até pq nunca fui muito da galera…
É isso.
25 de June de 2020 — 00:38
Raul says:
Jota,
essa troca de cartas entre você e o Edu foi uma das melhores coisas que li em muito tempo. Leitura fácil, uma página puxa a outra, bem como um assunto vem fácil atrás do outro numa mesa de bar. A beleza de uma vida nova, misturada com a melancolia de uma vida bagunçada. Me pegou no meio de um momento de vida bagunçada e me inseriu nessa mesa de bar. Puta livro.
Aguardo tão ansioso esse possível segundo volume, quanto aguardo a entrega de mais alguns recém comprados livros seus, para batermos mais um papo de boteco como deve ser aqui em São Paulo.
De noite!
Grande abraço.
27 de June de 2020 — 02:45