começa já na hora da entrevista, quando o chefe faz questão absoluta de mostrar quem é que manda. se a ideia for um estágio, pior ainda. não tem direito a uniforme, nem algum pra condução. e ainda se ouve que está aprendendo sem pagar por isso, embora não exista metodologia alguma. passar por várias praças pra entender a operação? nem pensar. para o contratante, só interessa a mão de obra escrava. portanto, se você foi eleita pra trabalhar no quadradinho onde se desossa rabada, é por lá que ficará as próximas semanas. ou meses.
o ambiente também não é dos mais saudáveis, com os amigos do rei debochando de quem quer aprender e anseia por ter a recomendação do restaurante no currículo. lembra dos brucutus valentões ginasiais? pois bem. alguns deles trabalham nessas cozinhas e aqui venceram, por mais que em boa parte do mundo estejam em baixa. mas nessa cozinha profissional a civilização não tem vez.
sabe qual locação do restaurante que NÃO tem câmera filmando ambiente? vestiários, banheiros e às vezes câmaras frigoríficas. é num desses ambientes que costuma rolar o assédio sexual.
após, por necessidade, passar pano com sorrisinho amarelo ao ouvir piadinhas de péssimo gosto, é no cubículo privado que se é encurralada no dá ou desce.
o resultado da reação escolhida pode ser a fama de puta ou filha da puta. a única coisa certa é a humilhação vinda do verdadeiro pulha, acobertado e apoiado por sua infame quadrilha de criminosos.
se sentiu injustiçada e quer colocar a boca no trombone? infelizmente não é bem assim que funciona, se prepare pra ser condenada pelo deus mercado a passar o resto da sua vida profissional na escuridão, já que darth vader é influente, tem trânsito em todos segmentos – inclusive entre esquerdomachos – e ainda paga de salvador do planeta, pauta tão em voga nos últimos anos. assediamos nossa mão de obra escrava, mas usamos ingredientes orgânicos.
lembre-se que o assédio ocorreu no silêncio do canto escuro – gritar não adiantará nada – e que em local público ele é sussurrado nojentamente no pé do ouvido, de maneira que se não tem evidência alguma contra o coiso, ainda mais nesses tempos de treva bolsonarista, quando se pode culpabilizar a vítima com certa facilidade. e não tenha dúvida que quem se omite se divertirá adoidado com a situação trágica.
não existe nada de bom na pandemia pela qual estamos passando, mas fato é que o mundo, se não mudou por completo, está no mínimo meio virado. talvez tenhamos passado da hora de dar um basta nisso.
recentemente abri meu balcão virtual para denúncias dessa procedência e a resposta foi abaixo da esperada. natural que não se sintam à vontade comigo e tudo bem, quem tem que aparecer não sou eu.
no instagram a conta @basta.br foi criada pra te ouvir. e há mais canais de fácil acesso à disposição. avante, meninas!
dêem fim nesse pesadelo. quando uma aparecer, outras virão e poucos sobrarão.
o mercado de trabalho tal como era não existe mais e agora quem tem que ter medo são eles!
Cássio de Oliveira Almeida says:
Absurdamente nojento e revoltante.
7 de August de 2020 — 13:53
Orlando says:
Há no Insta uma iniciativa chamada Exposed Arquitetos Brasil que, como no próprio nome diz, serve para denuncias no mercado de arquitetura, que é um pouco complicado também.
Nada impede que seja criado um também para denunciar esses cretinos e fazer chegar ao público e alertar a justiça para os fatos ocorridos nesse ambiente de trabalho.
7 de August de 2020 — 18:12
Andreia says:
Textos extremamente necessários!!! Estava à espera de mais denúncias por aqui… Uma pena que não repercute tanto, mas que bom que o espaço existe! Que isso encoraje outras a fazer igual!
7 de August de 2020 — 20:09