minha casa tinha duas varandas, de onde se avistava desde edifícios históricos até a praça da república, embora o cep entregasse que o logradouro se localizava na vila buarque.
os cinco anos morados renderam livros, festas e até um eficiente bar no quarto, onde podia beber a apenas dois passos da minha cama.
a atual crise e certa intolerância anunciaram a necessidade de me deslocar no meio da quarentena provocada pela pandemia, o que causou preocupação, já que faço parte do grupo de risco pois, entre outras coisas, sou obeso e sofro de doença degenerativa.
após muito garimpo e bem vinda generosidade de uma boa alma, me mudei para santa cecília, bairro vizinho.
como o apartamento é um pouco menor e já tinha mobília, doei quase todos meus móveis. o que foi bem bom, poucas coisas me deixam mais leve que o desapego.
embora aqui não tenha varanda, o sol da manhã bate direto na minha cama, o que faz especialmente bem pra esse portador de esclerose múltipla que vos escreve.
ou melhor, até tem uma pequena varanda, habitada por plantas. acabei de aguar essas e outras. aproveitei pra contar, no total são 37 vasos pequenos, médios e grandes. não sei o nome de nenhuma delas.
nos anos 80, quando morava na rua lauro müller, vila hamburguesa, subdistrito lapeano, cheguei a ter experiência de aproximadamente 3 anos com uma samambaia, que era regada 3 vezes por semana até o dia que, ao chegar do colégio, flagrei melissa, minha saudosa pastora alemã, com o resto da planta na boca. nunca mais cuidei de outra. agora tenho 37 plantas e um pug que as olha com cobiça destruidora, a primeira missão da mudança é administrar essa parada.
ao contrário da locação anterior, aqui estou cercado por luz e boa ventilação, o que faz um bem danado para alguém com a condição clínica que cito pela terceira vez nesse texto.
o bar no quarto já era, mas sei exatamente onde montar o novo e quando entrar algum dinheiro, assim o farei.
ainda não tenho internet, mas aprendi a usar o aparelho celular como roteador e, ainda mais importante, consegui lugar deveras agradável pra a mesa de trabalho. enquanto escrevo essas parcas linhas, atrás de mim o elevado do dr paulo grita. mais são paulo na veia, impossível.
os quadros ainda não pendurei, mas olho pra eles diariamente e fico imaginando as posições mais adequadas para as novas paredes.
trouxe também discos e som valvulado, que deve ser instalado por um amigo em algum momento nas próximas semanas.
já faz tempo que não tenho imóvel próprio e, como pode ver, tenho dificuldade em lidar com mudanças. tanto que deixei de dar a necessária atenção a esse sítio, que hoje é uma das minhas moradas preferidas.
baby steps <= assim dizia bill murray num excelente filme lançado em 1991. vamos aos poucos, digo eu. a meta de hoje é voltar a mexer na produção do livro que deveria ter sido lançado em junho, antes da pandemia adiar esse e tantos outros planos.
foi mal o sumiço, mas é um prazer estar de volta. nessa semana pelo menos mais um post terá, se forças ocultas não me impedirem.
agora preciso ir, pra tirar petisco do caminho da tentação vegana pela qual passa. não me perdoarei se for responsável por mais mortes verdes.