febre noturna, dor no corpo, muita fadiga. as noites terminam cada vez mais cedo e os dias demoram cada vez mais pra começar.
coronga? não, damas e cavalheiros. esse é o dia a dia do portador de esclerose múltipla. o quanto essa baixa imunidade que causa sensação de gripe eterna me deixa mais exposto a esse tipo de pandemia que nos assola eu não sei, assim como também começo a ter dificuldades pra diferenciar os sintomas. se fosse uma receita de cocktail, seria muito mais fácil.
a solução temporária é o retiro, sair cada vez menos e esperar o furacão passar. como estou no meio do processo de elaboração de um livro de crônicas e receitas, trabalho e comida não hão de faltar. só tenho que sair de vez em quando pra comprar provisões no mercado.
e passear o dog, que não tem nada a ver com a parada apocalíptica. disso não abro mão.
álcool do bom também tem bastante aqui em casa, não há com que me preocupar. gim, bourbon, vinho, vermouth e tudo o mais.
embora meu estado clínico aponte para inevitável pessimismo, gosto de imaginar que viverei até ficar bem velhinho e estou fazendo o pouco que posso pra atingir e dobrar a meta.
ontem vi um modelo de vida em santa cecília que me agradou muito. senhor de uns 80 anos, trajado apenas com roupão bordô e sapato de mocassim. na mão, uma sacolinha de supermercado. não é a primeira vez que o vejo e acho digno pra caralho. quero envelhecer assim.
já faz alguns anos que só uso moleton, george costanza style. onde muitos apontam desistência da vida, eu vejo conforto para o dia a dia. mas roupão, talvez por ter uma peça a menos, atinge outro patamar de bem estar. portanto, se sobrevivermos, palpito que a peça será tendência na coleção outono/inverno 2020, pelo menos aqui pros lados da praça da república. não precisa de toque de recolher pra esbanjarmos elegância e bom gosto.
podem aproveitar esses dias pra me dar coisas legais. presentes são bem vindos enquanto ainda estiver vivo, depois de morto pouco importa. eu também tentarei ser mais agradável.
que a pressão da peste ajude a nos transformar em pessoas pelo menos um pouco melhores.
Giaccomo Voccio says:
Curto vc pra caralho, Julião! Aliás, ja fui em vaaaarios lugares recomendados por vc (como o saint marie e o Kintaro, mesmo não conseguindo comer as maravilhosas coxinhas) e passei loooonge de outros que vc muito bem pontuou porque não merecem clientela. Outro dia encontrei o Álvaro Pereira Júnior (trabalho na tv) e e falamos sobre você e os prazerosos incomodos que a sua crítica causa. Estimo as suas melhoras e fico na ânsia de novidades. Forte abraço! Giaccomo Voccio
14 de March de 2020 — 13:25
Davi Benseman says:
Ótimo texto, Júlio! Acho você foda, parabéns pelo trabalho e pela coragem, você me lembra muito meu pai, que foi barman e gerente de bares chiques a vida toda (lembra do kintamani, tipuana?) acho muito corajoso seu posicionamento político e fico hoje cada dia mais ansioso para consumir algum conteúdo seu, seja aqui ou no youtube. Trabalho como videomaker e tenho muita vontade de trabalhar para você um dia. Sucesso pra você Júlio!
14 de March de 2020 — 16:17
Jr says:
Se fosse socialmente aceitável você também só se vestiria com veludo? Grandes textos, JB!
16 de March de 2020 — 14:52
jb says:
nada é mais elegante que veludo. infelizmente muito quente pra essas bandas…
16 de March de 2020 — 15:04
G. Carvalho says:
Roupão como O Grande Lebowski! Quando não posso andar nu sempre opto pelo roupão. Muito confortável. Recomendo.
24 de May de 2020 — 05:48