comer menos, comer melhor. o mesmo com bebida. depois de certa idade, soa um tanto óbvio.
comer é um ato político. sim, de acordo. minha parte tento fazer, divulgando trampos legais e denunciando outros menos nobres, desde que comecei a publicar sobre gastronomia.
o problema é quando a palestra se torna maior que a causa. o mundo tá muito cheio de opinião que ninguém quer saber.
mentes preciosas tem dado mais atenção à bandeiras que aos seus próprios trampos e isso joga contra pra caralho. não se deve menosprezar o que se faz bem.
quando um artista abandona sua arte para apenas discursar o resultado final é que ele é cancelado pela maioria da população, funciona contra.
não podemos esquecer quem somos e o porque de termos um público. não deixemos que nos manipulem.
político eleito é o funcionário público a ser combatido, independente de seu partido político. escolha bem seus inimigos. brigue contra eles, não entre vocês.
quanto maior o alcance, maior também é a responsabilidade. se conquistou seu público cantando, dê a eles o que querem, cante. e, ao fazer uma declaração política, seja pontual e econômica. a chance de te ouvirem é maior, garanto. e por aí vai, em todas áreas.
o ano passado, por exemplo, trabalhei por bom tempo num armazém ligado ao mst. comida saudável, agricultura familiar, pacote completo. uma das maiores dificuldades foi a de apresentar produtos de maneira simpática e coerente. eu não quero comer uma empanada vegana, mas uma esfiha de escarola com alho, tomate e castanhas tostadas, sim. quem é vegano vai entender e quem não é talvez se interesse. a causa deve ser consequência de comida gostosa, não o contrário. esse trampo acabou, umas coisas deram certo e outras não. mas espero ter plantado alguma semente.
porque existe todo um mundo além da bem intencionada bela gil. há duas semanas a encontrei num evento gastronômico e provei algo dela, que me perguntou toda sorridente se estava bom. sem graça, fui educado e desconversei, mas a real é que tava mais asséptico que chuchu sem sal. no lugar dela, cozinharia em hospital. sério, palavra de quem já foi internado por algumas vezes. a rotina hospitalar é um tanto chata e tentar achar algum sabor na comida da artista em questão pode ser tarefa divertida. mas ali tá tudo certo, ela oferece o que tem, o que consegue fazer.
no fundo, no fundo sabemos que a derrota é inevitável. mas não deixe que a militância apague sua voz. uma coisa está ligada a outra e é impossível a sobrevivência de apenas uma delas. equilíbrio que chama.
não sejamos cães raivosos. porque é melhor perder como em 82 que ganhar em 94.
Vitor says:
Exato, Júlio. Aderir a uma causa de cunho alimentar não significa aderir a comida ruim.
25 de February de 2020 — 09:38
Antonio says:
Bom texto Júlio.
Mostra um ceticismo sóbrio diante de tantas bandeiras e palestras que não servem para nada. Você já escreveu mais de uma vez e falou sobre o incomodo de achar assunto na escrita diária. As pessoas não percebem que não só você está morrendo, mas todos nós enquanto respiramos. Que nossa auto-destruição seja num boteco do JB.
26 de February de 2020 — 19:59
Rodrigo lima says:
Práxis, camarada JB.
Manhãs mais do riscado do que muito militante de esquerda.
Sempre fiquei puto com chefs estrelados que defendem produto local, etc. mas negam-se a falar da concentração de terra no Brasil. Incoerência? Hipocrisia? Desinformação? Senso comum?
8 de March de 2020 — 23:51
Rodrigo lima says:
Manjas mais do riscado* (maldito corretor)
8 de March de 2020 — 23:52